quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Maria do Natal

Lembrei-me desta antiga colega de liceu, nos Açores, cujos pais eram velhos emigrantes nos EUA e que por todos os coleguinhas era tratada por 'Merry (Mary) Christmas'.
Espero, tantos anos passados, que a terapia a tenha ajudado a ultrapassar os seus traumas (ah, a ruindade da condição humana...) mas desejo sobretudo, a todos vós (termo utilizado, note-se, apenas nesta quadra festiva), um Natal daqueles e um 2009 diferente para melhor!
aquele abraço e o chocho repimpão,

Notícia de última hora

Amanhã é Natal!

O Pai Natal (LAPONIANEXT: NECAS) acaba de anunciar que este ano haverá Natal. Depois de intensas negociações com o Menino Jesus, as duas partes chegaram a acordo e o Mundo (católico e pagão – agora um pouco menos “pagão” e mais endividado por causa da crise) pode descansar finalmente. O conselho de Administração da nova Joint-venture reúne-se hoje, pela meia-noite, será constituído por Gaspar, Belchior e Baltazar, e será assessorado por duas ovelhas, três pastorinhos e um coelhinho de chocolate.

Assim sendo, resta-me desejar-vos um Feliz Natal, um fantástico ano novo cheio de realizações pessoais e sempre com bom humor!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS

FELIZ NATAL
BOM ANO NOVO!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

E ao que parece ...

teremos paparoca natalicia na próxima semana.
Alguem sabe outro remédio que não o Guronsan para a ressaca?
É que me quer parecer que vou precisar!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

despedida com ques, exclamações e reticências

E pronto. Poucas palavras só para vos dizer, melhor, agradecer a ressaca sentida este passado sábado de manhã.

As saudades - como o amor - provocam terríveis efeitos secundários. Dei comigo lacrimejante, em apaixonada audição de "Time to Say Goodbye" (sim, Andrea Bocelli & Sarah Brightman). A propósito, só há uma coisa mais foleira que uma cantilena de Sarah & Andrea - é precisamente o uso sem aviso prévio do "&".

Mais a sério, obrigado. Não poderia ter desejado melhor estreia como 'formador' (que palavrão). Espero voltar a ver-vos ou, pelo menos, a ler-vos. Fico por aqui por prudência. É sabido que tenho o coração ao pé da boca.

Despeço-me apenas com as seguintes palavrinhas (e adereços): Feliz Natal e até jááá!!!..........................................................................................

ps: as avaliações finais chegam amanhã, por mail.

Vamos matar os formadores



exercícios do último dia sobre NCS



O Nuno morreu. Em 2077, já era altura de aqueles que no princípio do século faziam o povinho rir irem à vida – ou desistirem dela. Ergue-se agora uma nova era. Betina Botox, chegou. Acabaram-se os aforismos de pastelaria e as observações sagazes de Dona Bina. O sentimento geral é de alívio. O mundo vivia assombrado desde que, em 2008, Nuno Costa Santos achou ser seu dever incentivar um bando de energúmenos a escrever de forma “criativa”. Foi o princípio do fim. Ícone de uma época em que o blogue era uma forma de disseminar piadas de algibeira o Nuno influenciou muitos dos que se vieram a notabilizar nessa plataforma. Numa era em que se sabe que o humor é obsoleto, as palavras e ensinamentos de Nuno cairão depressa no esquecimento. O Nuno morreu esta madrugada, esperamos que os outros se sigam.


Joana Mil-Homens


Ele já não está entre nós. Deixou-nos, ontem, o homem que se destacou no mundo da moda cosmopolita. Era considerado um Deus no mundo das passerelles. Foi vítima de ataque cardíaco, quando o seu mais jovem manequim lhe revelou que é heterossexual. Nuno Costa Santos ficou conhecido como o primeiro homem a fazer capa na Vogue. Começou a carreira aos 25 anos, quando desenhou os cortinados que a sua tia, anos mais tarde, lhe ofereceu como meias. Criou também as camisas que Dunga leva para os jogos do Brasil e as que vestem Herman José no programa “Roda da Sorte”. Foi casado com Brigitte de Sousa durante 5 anos mas a relação termina quando Nuno Costa Santos assume a sua paixão pelo filho mais velho, Jeremias.
Fora da moda, escreveu ainda o romance auto-biográfico “Melangótico”. Tinha um Honda Civic comprado na Feira da Ladra, no Verão de 1992, que aproveita agora para colocar à venda, com este anúncio.
Nuno Costa Santos foi, para muitos, o rei da fashion life portuguesa.
O outro, com um nome igual, vai continuar a escrever para rádio e televisão.

Pedro Alves


Nuno Costa Santos morreu esta manhã, enquanto dava uma aula de escrita criativa no Hotel Amazónia, em Lisboa. O coração do famoso guionista açoriano não resistiu a tanta criatividade espontânea do grupo que se auto-denomina “Bomba Criativa”.
Para a posteridade, fica a sua extensa obra literária, da qual destacamos, a telenovela, escrita em parceria com Luís Filipe Borges, um dos maiores sucessos de sempre da TVI: “Rir para não chorar”.

Mónica Cunha


Deu ontem a sua última gargalhada Nuno Costa Santos. E com ela outras tantas ficarão por dar. Guionista, Costa Santos foi autor de infindáveis linhas que muito animaram este país e, no entanto, sem nunca retirar uma peça de roupa publicamente.
Natural de São Miguel, começou cedo a fazer os outros rir. Os pais dizem que a primeira palavra - rabo - soltou-lhes o primeiro sorriso. Aos 7 anos, escreveu a primeira graçola, ao satirizar o anormal traseiro da sua professora de então, D. Efigénia. Esta fixação revelou-se mais tarde vencedora, ao receber o primeiro prémio da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, pelo melhor sketch sobre obstipação.
Aos 40 anos, Nuno foi atrás do sonho e tornou-se no primeiro guionista português a “ganhar” um Óscar. Este episódio suscitou particular empolgamento de todos os portugueses: bandeiras voltaram a desfraldarem-se nas janelas para receber o guionista, T-shirts impressas com a sua cara, cachorros passeavam airosamente bonitas estampas do humorista, até que se descobriu que tudo não passava de um equívoco e que Nuno, afinal, tinha ganho um Óscar mas para melhor guião para filme pornográfico, pelo seu trabalho na película: '(B)analidades no Convento'.
Personagem tímida, mas detentor de uma capacidade anormal para fazer rir, sempre se sentiu feliz por fazer os outros felizes. Aliás, foi essa a sua motivação de vida: dar cor aos outros num mundo a preto e branco.


João C.


Experimentador de contemporânea genialidade, guardava em si o mistério da incerteza de um sim ou um não, de um aprovado ou desaprovado, por baixo de um esgrouviado penteado assimétrico para o lado esquerdo. De face robusta e maxilas proeminentes, não escondia uma boca cheia de palavras quando falava - tantas eram as que queriam sair que muitas lá ficavam -; o português dos Açores preenchia-lhe o discurso.
Jovem, de tez clara contrastada com tons escuros das suas vestes usuais, não conseguia deixar de transparecer uma cordialidade e humildade que muitos ousariam usar. Suas obras ficavam em segundo plano no dia-a-dia com excepção dos diálogos acesos com colegas de profissão. Há que lembrar um tête-à-tête com Nilton, um verdadeiro confronto de pesos plumas corpóreos, pesos pesados intelectuais. Num mundo onde não há vencedores nem vencidos, NCS foi um lutador por excelência onde guerreava pela satisfação de ter ideias que outros haviam pensado.
“Porque o que tem que ser tem muita força”.

R de Albuquerque


Morreu no sábado passado, mas não subiu aos céus. Ficou-se pelo caminho. Ainda pensou em ir, apenas porque seria o mais natural. Em vida, ainda que curta, nunca partiu muitos pratos, foi o filho que qualquer pai deseja ter, o marido exemplar, o pai extremoso. Era querido por todos no seu universo. Não se lhe conheciam inimigos, se bem que houvesse alguns rumores acerca de um tal Borges, seu conterrâneo e camarada de algumas aventuras profissionais. Ele é, até ao momento, o principal suspeito de o ter empurrado para o Tejo, depois de uma acesa noite de tertúlia e escrita criativa, causando o seu afogamento. O alegado assassino continua foragido. Mas isso agora não é para aqui chamado…
Foi por ter tido uma morte ingrata, nada glamourosa e ainda por cima gelada (a sua autópsia ditou hipotermia) que NCS (como era carinhosamente tratado pelos seus pares) se quis vingar da vida pacata que levara. E pela primeira vez, ser diferente daquilo que se esperava. Consta que pelo caminho, à entrada do purgatório, encontrou dois malfeitores que o desviaram da subida aos céus. Visto ter-se finado antes do esperado, decidiu ceder – pela primeira vez na vida, oops! já não foi em vida – a uma tentação. Esqueceu JC e ficou-se pelo purgatório, o sítio ideal para ele. Era o céu, sem o ser. Não era o inferno, mas para lá caminhava. Perfeito. Assim não precisaria de tomar partidos. Na caixinha onde a sua mulher ainda guarda as cinzas, mesmo em cima da máquina de lavar a loiça, lê-se agora: foi feliz depois de morto. É por isso que não consegue atirá-las ao Tejo, como era de sua vontade.

Luísa Oliveira

obituários de LFB



último exercício do curso: vamos matar os formadores!


Com um brilhozinho sinistro nos olhos, Luis Filipe Borges foi “desta para
melhor”. Para trás deixou meia dúzia de pastéis de nata, uns quantos códigos
empoeirados na estante, um moleskine com piadas de mau gosto e a quota das
Produções Ficticias por pagar. Assim o deixou escrito: “quando morrer, quero ir
todo “nuzinho” e apenas trajar a minha boina”.
Desde criança que mostrou aptidão para a escrita e para o discurso, não eram
raras as vezes que em que na base das Lajes se ouvia um “madafucka”
estridente ou uns sarcasmos sobre as orientações sexuais dos habitantes de
Rabo de Peixe. Mas o arquipélago das 9 ilhas era demasiado pequeno para ele,
queria mais, queria o continente, queria a capital, queria o mundo. É certo que
não o conquistou, mas escreveu uns livrinhos engraçados e deu uns quantos
workshops de escrita criativa. Pelo meio ainda contribuiu para a decadência da
televisão portuguesa com uns seriados policiais e uns talkshows de variedades
várias.
É sempre uma perda para a humanidade quando alguém “assim assim” morre.

Catarina Carrola


LFB, ex apresentador do programa da tv 2 a “revolta dos pasteis de nata” advogado e escritor, quinou a passada quinta feira por volta das 7 horas da manhã depois de um prolongado enfarte do miocárdio enquanto vegetava em sua casa. O corpo foi encontrado sorridente, despido, suado e coberto de bolinhos de chocolate. Ao seu lado encontravam-se variados exemplares de escrita, desde a comédia ao drama, passando por telenovelas e pequenos sketchs.
Luis será recordado entre os seus amigos pelo riso alarve e contagiante, pela forma como sorria e fazia sorrir, pela sua boina caractrística de quem tem excesso de testosterona.
A forma como espalhou magia quer nos bastidores quer nos palcos será para sempre recordada. Inspirou novas gerações, criou novos criativos e mostrou que o melhor da vida são as memórias que deixamos para outros recordarem.
A jantarada de comemoração será na tasca do Alfredo no Domingo pelas 19 horas, onde são esperadas centenas de amigos.

João Mendes


Faleceu, há precisamente 24 horas, Luís Filipe Borges. Podíamos (e talvez vocês o façam) chorar amargamente a sua partida, mas ainda estamos indecisos; ainda não sabemos se tal figura merece que toda a nossa face seja impiedosamente lambida por lágrimas que facilmente podem ser questionadas. Mas adiante, passemos para uma matéria onde nos possamos sentir mais confortáveis.
A morte de Luís Filipe Borges está, com efeito, a gerar controvérsia junto da família do defunto, pois ninguém, nem sequer uma pessoa, está com vontade de assumir as despesas para aquele que seria o funeral de sonho que o mesmo tinha idealizado em vida. Porém, ainda não sabemos o desfecho desta situação, uma vez que não conseguimos chegar à fala com nenhum dos amigos do falecido.
Não desesperem, possíveis fãs do homem da boina, pois ainda há esperança que as últimas vontades do morto sejam cumpridas. (Não sabemos é se amanhã nos deixam utilizar um pouco de página do jornal para que possamos informar os leitores dos acontecimentos que possam vir a ocorrer…)
Até lá, lamentem. Nunca ninguém disse que seria fácil, também nunca ninguém disse que seria tão difícil, mas enfim… lamentem.

Rita Oliveira


Finou-se Luís Filipe Borges. LFB para os amigos e para os formandos do curso de escrita criativa. Um gajo com o coração ao pé da boca de onde saem disparadas e sem qualquer controle todas as emoções e mais duas ou três ou quatro. Nuno Costa Santos, seu amigo de longa data, tinha sérios problemas em refrear o seu entusiasmo e terá, em nome da amizade, uma ou outra vez procedido ao seu amordaçamento. Consta que a amizade não esfriou apesar disso e LFB assim que se apanhou sem a mordaça gritou “Acho que vou fumar mais um cigarro”. LFB era um homem de paixões, paixão pela escrita, pelo humor, pelo Batman interpretado pelo Heath Ledger (fodasse!) pelas mulheres. Talvez por isso desejasse casar e casou. Era um homem da noite, andava quase sempre às três da madrugada a tentar salvar o mundo, mas o mundo não queria ser salvo e dizia-lhe não raras vezes e passamos a citar: Oh pá “deslarga-me” que não quero ser salvo, porra.

Poucas foram as pessoas que lhe ficaram indiferentes na sua passagem pela televisão, não tanto pelo que dizia, mas porque não conseguiam tirar os olhos dos tentadores pastéis de nata com que ele conseguia atingir estrondosas audiências. Todas as semanas as pessoas pensavam que ele havia de revelar a receita dos pastéis de Belém e ele, esperto, deixava-as acreditar que sim. Era um homem a quem ninguém ficava indiferente. Eu não fiquei e vou certamente recordar a sua passagem pela minha vida durante muito tempo. Pelo menos até daqui a umas horas enquanto o vinho do almoço não faz efeito. E talvez também o recorde no dia em que ao abrir a gaveta me pergunte: que boina é esta?

Andreia Moreira


Morreu Luís Filipe Borges. Mas não queria. Por sua vontade, teria ficado por este mundo até à eternidade. Lutou até ao fim pelo seu lugar ao sol, procurando as palavras que ainda não tinham sido ditas, que ainda não tinham sido descobertas. Correu incessantemente atrás do momento que ainda não tinha vivido e encontrou-o, finalmente. Por isso, ficamos felizes.
Como bom português, não interessa se fez bem alguma coisa, o que interessa é que deixou obras, todas elas parcas em reticências e pontos de exclamação. Proclamou sempre que o estilo “subversivo” é garante de genialidade. Ou disso ou de perturbação. De qualquer forma, andam sempre juntas. Fosse qual fosse a que ele tinha, morreu com ele.
Família e amigos agradecem que o acompanhem à sua última morada porque ele tem medo de morrer sozinho.

Antónia Marinho


Pereceu, por ter ido à máquina num programa de roupa branca, Beret, ‘O fazenda preta’ nos momentos mais escassez cerebral ou o ‘O Nylon Riscas’ nos dias mais cool e criativos. Foi esta idiossincrasia têxtil que o tornou famoso.

Vanessa Luz


Faleceu hoje inesperadamente, devido a engasgamento profundo com o folhado crocante dum pastel de nata tamanho XL, o humorista português Luís Filipe Borges.
Conhecido Açoriano, a ainda jovem promessa portuguesa, estava actualmente ligada aos microfones do Rádio Clube Português onde, em vibrante parceria com o comentador desportivo Rui Santos, assumia uma crónica de humor diária. Parceria essa, que estava aliás a dar os seus frutos além ondas hertzianas, atendendo que a dupla estava em conversações com o actual director da Sic Generalista, no sentido de assegurar uma presença semanal no canal, num formato ainda por definir.
Confrontado com esta enorme perda, o Luís Filipe não era um homem leve, o Governo Regional dos Açores declarou ter hoje solicitado à família autorização para utilizar a imagem do falecido humorista numa campanha anti-tabaco, reaproveitando o facto de este “fumar como um cavalo”, o que se acabou por revelar manifestamente nefasto para o seu bem-estar.


Margarida Santos


Num mundo cinzento,
De personagens pardas e opacas,
raros são os casos sem corantes, rouge ou lacas.

Vivem sem viver,
Fechados no seu reflexo,
Nunca são nada para os outros,
Nada de dar um amplexo.

Mas há estilos diferentes,
Há aqueles que têm muita graça,
Fazem os outros felizes,
Fazem esquecer a desgraça.

Partilham o seu fascínio
Pelas coisas em redor.
Partilham o seu passado,
O que sabem, sem ser de cor.

De boina na cabeça,
Notava-se ao longe a diferença.
Era um dos tais exemplos
De quem dá vida ao que pensa.

Passou por nós num ápice.
Apesar de tanta comédia, do teatro, do romance
Deixou-nos apenas o prefácio,
Deixou a vida num relance.

A sua imagem marcante,
Nunca nos abandonará.
O seu estilo vibrante;
Hoje, o Luís não está cá!

Pedro Vozone


Portugal despede-se hoje, no Panteão Nacional, do mais ilustre desconhecido sob boina, exemplo mor da mediocridade humana. Quem o conheceu diz que mais valia não ter conhecido. Os poucos amigos que Luís Filipe Borges ainda tinha garantem que, nos últimos dias de vida, ele já não conseguia tirar a boina da cabeça. E é assim, com boina, que o podemos ver, inerte, ridículo, de urna aberta.
Médicos legistas garantem que a boina terá adquirido vida própria e sugado toda a energia vital do corpo do hospedeiro. A boina terá sugado também uma ou outra onda cerebral que, muito esporadicamente, ia apanhando por aqueles lados. A usurpação do corpo pela boina é a causa oficial do óbito, para espanto da generalidade dos médicos legistas e da comunidade dos vendedores de boinas portugueses.
Dirija-se ao Panteão Nacional e tire o chapéu ao homem que não o conseguiu tirar e, ingloriamente, morreu por isso.

Susana Tavares

Secção de Necrologia do Semanário “Hoje não há bolinhos”

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

(Boas) Recordações

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

most likely to suck syd (ou O Inferno de Gante)


Eleito pelos colegas, com 8 num total de 19 votos (uma maioria relativa que Ferreira Leite não desdenharia), o tímido João Gante fez um discurso de agradecimento do qual se destaca o seguinte trecho:
"Penso que era isto que Pacheco Pereira queria dizer quando, há 15 anos, previu categoricamente que o país iria bater no fundo".
Além de um constante trabalho de excelência - e o part-time como proxeneta de Svetlana, Gante produziu aforismos espontâneos, em aula, como por exemplo:
"Sou um prado verde com telhados de vidro"
"Para mim, não há nada mais interessante do que as coisas e pessoas normais"
e
"Pá, dão-me licença que saia? Estou mesmo à rasquinha"
Aqui fica a devida homenagem.

I (we) feel good


Texto sem 'que's", do João Mendes

( Perdi a folha com o meu texto por isso vou escrever um novo. OBVIAMENTE que não está tão brilhante como o anterior, mas vou tentar manter-me fiel àquilo que escrevi na aula... há 2 meses)

Sentado na aula, debaixo de pressão, Francisco “come” a caneta enquanto puxa pela massa cinzenta. Escrever restritamente é a missão. Pela primeira vez sente-se pressionado não para apresentar números mas para escrever. Agarra a caneta e deixa-a deslizar. Imagina a sua pessoa numa visão longínqua e observa. Descobre os seus tiques, as suas manias, as suas formas. No fundo aprende sobre si de uma forma que nunca aprendeu. Repara no seu “irmão” gémeo carinhosamente enquanto este se rende, deslizando a caneta ao desenrolar dos acontecimentos. Ele escreve enquanto Francisco visualiza. É impressionante como o distanciamento permite compreender quem somos, como vivemos, que manias e feitios possuímos. Lá em baixo o irmão gémeo sorri com o desafio, pára, levanta a cabeça e volta a escrever transmitindo a nítida sensação de alguém que acaba de descobrir uma nova forma de expressão, a escrita. “Faltam 2 minutos”. Francisco desce à terra e funde-se com o escritor, ao estilo Songoku, sinergindo num novo ser. Mais amplo, mais culto, mais vasto. “A mente é como um pára-quedas. Só funciona se o abrirmos".

Joaquim parte para a guerra


Os formadores gostariam só de dizer que nutrem o maior carinho pela Dra. Odete Santos. Obrigado.


Depois do colapso financeiro de 2008 o mundo não voltou a ser o mesmo. O continente americano foi “engolido” pelos glaciares e a disputa por terrenos no médio oriente faz parte da nossa civilização. Com os preços do petróleo a atingirem máximos históricos a cada hora, as tropas portuguesas optaram por usar na sua frota Gocars. Os pequenos, agora "verdejantes” veículos circulam em caravava pela 125. Milhares de Gocars equipados com sistemas de navegação de topo, aramamento anti-nuclear, sondas e walkietalkies, enquanto as brigadas da GNR enbigodadas escoltam a esperança portuguesa. O objectivo militar de Portugal no médio oriente é recuperar... Mariza.
Mariza, depois de inúmeros arrojados cortes de cabelo, ousou na sua digressão mundial cantar para a família do Sheike Xupanatola. Relata-se que após o sucesso alcançado no concerto, Mariza foi cobiçada pela familia inteira de 30 bigodinhos, tendo sido prometido - em troca da sua sodomização - o envio de 1 milhão de barris diários de petróleo para Portugal. O cerne do conflito é precisamente o facto de Mariza estar completamente esgotada e sem forças... e o petróleo nunca mais chegar. A fadista tem bombado o mais que pode, mas tornou-se inevitável a intervenção das forças portuguesas para forçar o cumprimento do acordo. Duarte de Bragança e a sua Isabelinha acompanham inclusivé a comitiva Portuguesa, tendo o actual Rei de Portugal já noticiado que em caso de haver risco das negociações fraquejarem, Odete Santos tinha sido colocada na mala de um verdinho como Joker final.


João Mendes


ps: como diabo é que aquelas três cançonetas te levaram a este delírio?!

eu, travesti, me confesso

Vai por um aí um legítimo mistério nos comments. De facto, postei vários textos como 'Lulu'. Apesar de, vistas bem as coisas, o petit nom se me adequar na perfeição, a verdade é que não faço a mínima ideia como tal sucedeu. Sonambulismo, talvez. Seja como for, estou assustado.

Etelvino, um tuga à antiga

O João Santos teve a despedida de solteiro, o casório e a lua-de-mel, mas ainda arranjou tempo para fazer tpc's em atraso. Belo perfil. Etelvino podia perfeitamente beber minis com o serial-killer do João C.
Homem pequeno, “cinquentão”, simples, chico esperto.
Veio novo (16 tenros aninhos) para Lisboa viver com um tio cuja ingenuidade era tão grande como a honestidade, nenhuma.
Vivia sobre o café do tio e apesar da 4ª classe tirada a ferros (especialmente o ferro com que o pai lhe batia pelas más notas e lhe deixou nas costas marcas da necessidade do trabalho árduo) , apanhou as manhas nada coerentes com os ensinamentos de seus pais, que ainda viviam em Manteigas com os seus 13 irmãos, rasando a pobreza.
Aos 18 anos tinha passado tantas notas de 100 escudos por debaixo do nariz do tio como mulheres pela cama, nenhuma paga mas a todas sempre prometidas a propriedade do café.
Aos 20 torna-se dono do café e inicia novo negócio – compra de casas velhas a preço baixo, recuperação pelas próprias mãos ou de dois rotativos negros ilegais a quem nunca paga e venda a preço inflacionado. Mantém o sotaque e discurso simples, merecedor do título de “parvónio”. Rapidamente passa da venda ao aluguer, mais lucrativo – 10 brasileiros, T0, Intendente, 300 contos não declarados.
Aos 30 casa com Arnaldina, a moça mais bela de Manteigas, 15 anos mais nova, daquelas que quando se fala do marido, se diz facilmente “o seu pai disse-me…”, e que rapidamente se torna tão “fresca” como seu marido, a quem encorna com o homem dos donuts.
Hoje aos 50, a fidelidade de Etelvino é tanta como aos 18, o cabelo branco já vai aparecendo mas o sotaque e o ar de agricultor que acaba de chegar à cidade mantém-se.
No testamento não declarado (nem à Arnaldina) estão um milhão de contos espalhados em vários bancos, três cafés, cinco moradias, 12 prédios e 300 inquilinos (200 brasileiros e 100 russos, malta porreira que paga e não pia, bastando a ameaça dos amigos “vestidos à SEF” para os calar) e o mesmo Mercedes velho do tio, pois há que manter as aparências.
Não se lhe conhece outro casaco há anos, tal como as camisas do tempo da outra senhora, nem palavras na boca como “gastar” ou “novo”, excepto quando comprou o Mercedes à Arnaldina para acabar com os “pulos na cerca” com o homem das cervejas.
A mulher entra para trabalhar às 6h30 todos os dias no antigo café do tio, os outros dois estão na mão dos filhos. Etelvino passa o dia a comprar, arranjar e alugar casas e faz o fecho do café do tio com os bêbados da zona, amigos, a quem oferece um copo depois de roubar três e a quem diz que a empregada nova (com quem dormiu pelo menos cinco vezes, o mínimo) mandou-a embora porque era mais ladra que o Sócrates!

3 músicas



Requiem - Mozart


Ondas que rebentam nas tuas praias, amor. Rex, sou o teu rex, qual requiem de cada onda que a paixão faz morrer em ti, minha praia. O sal escoa-se por entre os grãos de areia que são os teus dedos, que te absorvem cada gota e me deixam dentro de ti. Entre cada vaga, momentos de calma; o ruído da onda a crescer, a água a deslizar num ruído crescente sobre mais água, até rebentar na areia e nós rebentando em nós, até a onda parar e recuar de novo até ao mar. Sol. Está sol na nossa praia, aquecendo as ondas e a areia que nós somos, quentes que estamos como o sol e nem a frescura das ondas arrefece. Vento. Não há vendaval que nos separe. A bandeira vermelha ondula e não nos consegue parar. As nuvens galgam o céu e, como nós, fundem-se no azul, fundem-se numa imagem única de céu, sol, mar, areia, vento. Nós somos o azul do céu e o mar e o mundo e a vida toda num só momento.

The Strokes – you only live once

Fomos no comboio da tarde. Estava cheio das míudas que, no comboio, não tínhamos coragem de abordar mas que, dentro dumas horas, estariam nos nossos braços na matiné da tarde. As matinés de sábado eram assim: o comboio até Cascais, o passeio a pé pelo Santini até à discoteca. Martha and the muffins abriam a tarde de felicidade, glorificada pela meia-hora de cada passagem de slows. Agarrados como lapas à miúda que tinha estado a olhar para nós toda a tarde até a música amansar. Os beijos, os abraços, a ternura, até à nova matiné.

Morrissey – the first of the gang to die

Vi uma esplanada cheia de nada e com vontade de ali não estar. Vi um largo com pombos parados, quietos como se com medo de serem notados. Vi uma matilha de cães vadios no centro da capital. Não havia autocarros a passar. As árvores estavam carregadas de folhas verdes naquele Outono. O céu estava verde. As motas passavam em silêncio. As ambulâncias estiveram paradas. Ninguém morreu. Várias pessoas adiaram o seu testamento. Não te tive nesse dia.

Pedro Vozone

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

exercício de inspiração musical



Abro os olhos.


Estou numa sala sombria e fria. Há minha volta há gente vestida de negro. Oiço-os chorar. Procuro passar entre as pessoas para chegar ao centro da divisão. Faço-o com uma surpreendente facilidade. Ninguém parece dar por mim. Olho em frente, e vejo o Nuno. Está velho. Muito mais velho. Ao seu lado estão duas lindas mulheres. Reconheço de imediato as minhas filhas. Estão os três a chorar, juntos num só abraço. Olho melhor em meu redor, e confirmo o rosto de amigos, da família mais próxima, de alguns colegas. Olho finalmente para o centro da divisão. Um caixão. Enorme e maciço, anunciando-me o que sei mas ainda não quero crer. Corro, mas os meus passos parecem estar em câmara lenta. Aproximo-me e vejo.


Abro os olhos.

Vamos pela Marginal. Na Radar tocam os Strokes. A música está alta. Como eu gosto. Ao meu lado o Nuno vibra com o som. Estamos só os dois e hoje venho eu a guiar. Pusemos as miúdas nos avós e seguimos para o Coliseu para ver Franz Ferdinand. O tempo ainda está um pouco fresco, e na Marginal o céu tem um azul diferente. Mais luminoso. A música continua a bombar, e mal posso esperar por começar a dançar.


Abro os olhos.

Por momentos não reconheço o local. Fazem já tantos anos. O entra e sai de gente, distrai-me e impossibilita uma identificação em tempo útil.
Queres alguma coisa? – Oiço dizer nas minhas costas, e reconheço-me de imediato naquelas palavras. Estou 15 anos mais nova. E no olhar a inocência de quem ainda acredita que vai mudar o mundo. O Nuno chama-me. Espera, grito-lhe, bebendo o café dum só trago. No bar a música continua a tocar. É Morrisey, mas sem os The Smiths.

Margarida Santos

isto não interessa nada

Escrever sobre nada. O oposto da minha vida. Sempre tão espartilhada pelos temas, pela actualidade, pelo espaço, pelas fotos, pelas fórmulas. Aqui só sobrevive a pressão. A pressão dos prazos, a rapidez no dedilhar, a música para a inspiração. Que silêncio. Que estranho. Será que interessa a alguém a minha escrita, só por si, sem opiniões alheias, sem contraditórios. Sinto-me de novo a descobrir o fascínio da folha em branco. Ali. Disponível. Inteirinha só para mim. Isto quase parece um diário ou aquelas diarreias mentais que tinha em adolescente. Já não tenho idade para isto.
Gosto da música. Gosto de música. De clássica. Para escrever é o ideal. Costumo ouvir Chopin, os nocturnos tocados por Maria João Pires. Mas também gosto de me evadir do bruá alheio com sons do mar. E lembro-me sempre de uma vez que estava num avião a regressar do Brasil (por cima do oceano) e aquilo não parava de tremer, e eu - que também não parava de tremer - pus os auscultadores no programa de relaxamento. Acto contínuo, oiço: «Imagine-se no fundo do mar…» Tão adequado, pensei. E não me acalmei, como é óbvio.
Mas quando a música tem demasiado ritmo, ou letra intensa, deixo de ter concentração suficiente para me evadir – e lá se vai, em sonhos, a sala escura das massagens. É superior a mim. Começo imediatamente a trautear a letra (se não a souber de cor, invento), o corpinho, a medo, vai bamboleando-se, o pé a bater ao ritmo. Que se lixe o texto. Gosto mesmo de dançar. De música, de letras em inglês. Foi a achar que cantava essas letras que aprendi a língua, ou a ver desenhos animados com legendas ou filmes. Do Hitchcok, no quarteto. Eu e a minha mãe. Vimo-los todos. Que bons que eram. Que são. Tenho pena de já não ter essa disponibilidade para o cinema e com isso as saudades do tempo em que não era super mãe. Tento furar o esquema sempre que posso. Aproveitar horas de almoço, encher-me de go natural nas cadeiras do cinema do Oeiras Parque. Sozinha. Sozinha, mesmo, só eu e o senhor «Cine Paradiso». Sabe a pouco, até porque os filmes que por lá passam deixam muito a desejar. A propósito: tive uma surpresa no último que vi. Ao ler o genérico descobri que um dos meus formadores (que raio de nome, mas também assim de repente não arranjo outro) fazia parte do elenco. Se sentir saudades disto, posso sempre (re)vê-lo no grande ecrã.

Luísa Oliveira

O carro falante

GoCar recusa-se a falar com a Mónica porque está em greve.
MÓNICA
Não dizes nada?
GOCAR
Agora não me apetece.
MÓNICA
Mas eu paguei para te ouvir falar de Lisboa.
GOCAR
Não sou nenhum papagaio, sou um carro amarelo.
MÓNICA
Um carro falante, é suposto falares enquanto andas.
GOCAR
Hoje não. Estou em greve.
MÓNICA
O que é que se passa?
GOCAR
Sinto-me muito cansado. Os turistas, ou melhor, as turistas não me largam.
MÓNICA
Tens dado muitas voltas?
GOCAR
Imensas. E o pior é que trabalho todos os dias.
MÓNICA
A sério?
GOCAR
Sim, Sábados e Domingos incluídos.
MÓNICA
Talvez seja melhor falares com o teu chefe. Em vez da greve, pede-lhe um aumento.
GOCAR
Aumento? O tipo é um sovina do caraças. Só pensa em facturar.
MÓNICA
E o negócio corre-lhe bem.
GOCAR
Pois claro, à minha custa. Resmas de gajas a querem circular comigo.
MÓNICA
E tu, não gostas? Não me digas que…
GOCAR
Não, nada disso. Mas às vezes, não chego para as encomendas.
MÓNICA
Agora que já nos conhecemos melhor, aceitas dar uma volta comigo?
GOCAR
Está bem miúda. Põe o cinto. Puseste o capacete preto? Deixa ver. Fica-te bem.
MÓNICA
Deves dizer isso a todas.
GOCAR
Não a sério, a ti fica-te muito bem.
MÓNICA (sorri)
Onde é que vamos?
GOCAR
Queres ir a Belém?
MÓNICA
Podemos parar nos pastéis de nata?
GOCAR
Claro, paramos onde tu quiseres. Como sou pequenino, sou fácil de estacionar.
MÓNICA
O tamanho conta, a teu favor.
GOCAR
A nosso favor miúda. Estás a gostar do passeio?
MÓNICA
Estou, mas as pessoas não param de olhar, já viste aqueles a acenar.
GOCAR
Buzina miúda. Carrega na minha buzina.
MÓNICA (Carrega na buzina e acena)
Não sabia que era tão conhecida.
GOCAR
Não é para ti, é para mim miúda.
Tás a ver aquelas japonesas, já se sentaram aqui no colo do paizinho.
MÓNICA
As mulheres não resistem a quem lhes faça rir.
GOCAR
Eu sei miúda. É cada história.
MÓNICA
Conta-me uma divertida.
GOCAR
Já sabes aquela dos “mais loucos corredores de escrita criativa”?
MÓNICA
Não, conta lá.
GOCAR
Os tipos resolveram fazer uma corrida mesmo em frente aos Jerónimos.
MÓNICA
Tás a brincar.
GOCAR
Juro pela minha mãezinha. Só pararam de acelerar porque apareceu a bófia.
MÓNICA
Conta mais.
GOCAR
Conheces aquela do tipo da boina às riscas?
MÓNICA
Não. Conta lá.
GOCAR
O tipo foi perseguido pela polícia porque foi confundido com os irmãos metralha.
MÓNICA (RI)
És o máximo.
GOCAR
Tu também miúda.

inspiração à pressa


A ópera continuava, sonante. Em cena, Turandot ordenava aos seus criados para correrem toda a cidade à procura de alguém que soubesse o nome do príncipe desconhecido. Aquele misto de sentimentos, a raiva misturada com a surpresa, o desespero misturado com o prazer afloravam em Turandot. Só equacionava salvar-se, encontrar a chave que manteria a tranquilidade da ausência da mudança. Quem seria aquele príncipe que ousou desafiar as suas leis? Nessa noite, ninguém dormiria. Intrigada, Matilde pensava: Onde raio se meteram eles?
Ao mesmo tempo, Carlos e Mariana corriam nos becos da rua do Porto. Tinham decidido abandonar a festa e os amigos, sem que ninguém desse por isso. A fuga garantia a felicidade que lhes estava prometida e não podia ser adiada. O cachecol servia de corda rebocadora para que Mariana aguentasse o fôlego da corrida.

Num 3º andar, batia à porta Carolina. Deixou para trás tudo o que caracterizava a vida dela naquele momento. Tinha tomado uma decisão: recomeçar. Como todos os recomeços, fazia-o a chorar porque há que reequilibrar os fluidos para que tudo faça sentido outra vez. Levava o saco de viagem na mão, com tudo aquilo que era prioridade na vida dela. O resto, que ficasse para trás. Traria memórias que não lhe interessavam. Desceu as escadas a correr e, no momento em que trespassou a porta, cortou a meta: o cachecol de Carlos e Mariana jazia no chão.

Antónia Marinho

o mordomo - uma história em três melodias


Mozart

Desespero. Sensação de urgência, de aperto no peito. Naquela manhã, o patrão tinha sido encontrado morto na biblioteca escura da mansão, entre as intermináveis estantes de livros empoeirados. Gritos cavernosos anunciaram a sua morte. Fora encontrado pela empregada, no chão de mármore, gélido e ensanguentado. Fora agredido com o pisa-papéis que sobre ele repousava, manchado de um vermelho-sangue. Naquela manhã fria de Novembro, a mansão ecoava gritos de pesar e de horror. O inspector prepara-se para anunciar aos enlutados o assassino do patrão. “Será que foi o mordomo?” – balbuciou a viúva, entre lágrimas. “É sempre o mordomo” – concluiu a empregada, leitora ávida de romances policiais, fã de Agatha Christie e de Pedro Vozone.
O jovem mordomo inglês assistia ao discurso do inspector, prostrado numa poltrona, no fundo da sala. Quase paralisado. A culpa estampada no seu rosto não significava que tivesse sido ele o autor do crime. Desta vez, para espanto da empregada e dos fãs de romances policiais, o assassino não era o mordomo. A culpa do mordomo existia, somente, por ter estado na biblioteca, na noite do crime, com o filho do patrão, seu amante.

“You only live once”
O filho do patrão não partilhava o sentimento de culpa do mordomo. Depois de, brutalmente, ter assassinado o pai, partiu no Bentley do velhote, estacionado à entrada. E viajou sem destino, livre. Não fugia do que tinha feito naquela noite. Pelo contrário. Iria entregar-se, mas só quando lhe apetecesse. Primeiro, precisava experimentar aquela sensação de liberdade durante um bocadinho. Acompanhava com euforia uma música que tocava na rádio. Cantava, sem receios. Aquela música fazia-o sentir vivo, livre, sem amarras. Aquelas horas em que viajou com o volume do rádio no máximo foram para aquele rapaz as melhores da sua vida.

“The first of the gang to die”

“You have never been in love”, concluiu, pesaroso, o mordomo, na sua língua materna. E o rapaz, mantendo o ar impassível com que regressara do passeio, não desmentiu. Seguiu calado, algemado e escoltado pela polícia ao carro do inspector. Seguiu viagem até ao cárcere. E durante essa viagem, bem diferente da que fizera na noite anterior, transportava consigo apenas um único pensamento, uma imagem onírica que contemplara na noite anterior: o reflexo das estrelas na água. Efémero e avassalador, como o amor que outrora sentira pelo mordomo.

Susana Tavares

três músicas

Música 1

Desce um padre do altar, aproxima-se da sua major imagem de redenção, ajoelha-se e pede perdão a Deus.
“Perdoa-me ter sido a pessoa que fui, perdoa-me todo o sofrimento que te causei, perdoa-me não ter seguido a tua doutrina”
Monsenhor Noé atravessa o hall da igreja e dirige-se à mais alta torre do Duomo de Milão. Sobe os 148 degraus da mesma, passando por aberturas sem vidro, a chuva torrencial aliada ao frio cortante servem de princípio de tortura. O castigo máximo aproxima-se. O sentimento de não redenção impera na sua alma. Chegando ao cimo da torre, começa a palmilhar a cobertura de mármore, lívido com a luz dos trovões que não deixam de cair. O barulho ensurdecedor atropela a sua reza contínua: “perdoa-me ter sido a pessoa que fui, perdoa-me todo o sofrimento que te causei, perdoa-me não ter seguido a tua doutrina”.
Noé aproxima-se da gárgula, olha sobre Milão, deixa cair uma lágrima e por fim apela a Deus:
“Perdoa-me ter seguido o demo…”
Música 2
Vamos sair? Vamos curtir? Hoje está-me mesmo a apetecer electro. Lux?! Green?!
Não posso, meu… a Mariana não me deixa sair assim todos os dias!
Não sejas assim, nunca sais com os amigos. Hoje é dia de diversão, apetece-me beber umas imperiais, umas amêndoas, apetece-me explodir de sensações! Já te contei que comprei uma ESP?
Não?!
Tou a falar sério, tem um som brutal! Não tenho parado de rasgar com aquilo. Faz-me lembrar do verão, da diversão… Hoje é o fim do mundo!
Música 3
O sentimento da responsabilidade findada. Fantástico. Acabou-se o curso, acabaram-se as preocupações, relax relax relax! É hora de uma surfada. Baleal ao fim da tarde, o pôr-do-sol como painel e o mar a puxar por mim; como seria fantástico ter prancha.
Vestir o fato, sentir a água fria aquecer o corpo, por mais estranho que pareça; como seria fantástico poder andar.
Ricardo Albuquerque

wordsong

Simplesmente vago, uma confusão indistinta e incessante, um desvio que trespassa estas paredes, este terraço, vocês, que escrevem, escrevem e escrevem. Parecem saber para onde vão. Vago, pensamentos perdidos, inconsistentes, provavelmente esquizofrénicos. Paro, olho novamente, vocês continuam a escrever e eu sinto-me tentada a parar neste tempo, neste silêncio cinzento. Por mim ficava assim, entorpecida, mais depois penso, é melhor subverter este vago, dar-lhe estilo, estabelecer os seus limites.

(Times New Roman, 12, justificado, 488 caracteres)

E larica. A música também me abriu o apetite. Acho que Mozart vai bem com Picanha.
Vanessa Luz

e, após o intervalo para comerciais


Pressão, pressão, pressão. A música arrancou e eu tenho de “arrancar” também
qualquer coisa... tenho de arrancar, nem que seja a ferros. Ok, concentração,
brainstorming mental e individual.....e aqui vou eu! Que porra, eu nem gosto
de ópera: fiquei assim desde que o meu avô me obrigou, com a tenra idade 3
anos, a decorar a várias sinfonias de Beethoven. São sempre números, não é?
Espera, espera: Strokes! Não acham o Julian Casablancas o gajo mais giro do
mundo? A música diz que só se vive uma vez e eu acho que uma vez é mais que
suficiente (é impressão minha ou acabei de fazer um aforismo?).
Epá, o bacano da boina tem um CD de Morrissey na mão... esta é a altura em
que eu digo que este é o meu cantor preferido de todos os tempos e que até
tenho algumas tatuagens alusivas à personagem espalhadas pelo corpo.
Aproveito também para dizer que há coisa de 4 anos cortei a sola do pé ao som
desta música. Estava numa discoteca pseudo-gótica, muitissímo mal
frequentada, quando, de excitação, ao ouvir os acordes inicais da dita cuja,
esmago um copo de imperial com as minhas cândidas sabrinas que ficaram, de
imediato, com uma notável tonalidade avermelhada. Foi uma bela noite
passada nos corredores do hospital de São José.

Porra, a música acabou e eu não escrevi nada de jeito... (mais um texto que
não vai para o “bolinhos”
)

Catarina Carrola

domingo, 30 de novembro de 2008

Odisseia a Belém for Dummies… em 15 passos

Há coisas fora do prazo que ainda se comem muito bem - ou, belo trabalho do João Santos:
Inicio da viagem com música da Odisseia no Espaço (http://www.youtube.com/watch?v=3yM9tW-jjEA)

Com o som em background entra o voz off - Bem-vindo à aventura da tua vida! - no final da frase, um dos picos da música e depois a voz off novamente – Estimado, I think this is the beginning of a beautiful friendship!
(Mais música)
Voz-off - Escolheu a Odisseia a Belém for dummies em 15 passos. Vamos lá Cambada, todos à Molhada!
Voz-off - Passo um, sê uma Estrela e para isso nada melhor que a rua dos douradores de onde estás a arrancar e onde há 200 anos se vendiam arreios dourados para os cavalos e se abrilhantavam os metais. Cuidado não com os cavalos mas com os eléctricos e automóveis!
Voz-off – Passo dois, sente-te o rei neste enorme terreiro do paço onde agora estás (pausa) mas muita, muita atenção, não morras, pois há 100 anos foi aqui morto o penúltimo rei de Portugal e seu filho descendente ao trono para que se instaurasse a República.

Voz-off – Passo três, Cais do Sodré, é a única praça de Lisboa onde se pode tomar qualquer meio de transporte. Com excepção do avião, claro. Daqui já não partem caravelas para a Índia, como há cinco séculos, mas partem cacilheiros para a outra banda (texto que a Go-Car dizia e que saquei da net – gostei bastante e não lhe mexia um ponto)

Voz-off – Passo quatro, encosta à direita e toca a parar! Chegámos à praça da ribeira, sabias que foi construída no tempo de D. Afonso III e era um dos dois mercados centrais de hortaliças juntamente com a Praça da Figueira? Olha bem e encontra uma lojinha que ai está. Para quem tem frio, nada melhor que um cacau quente.

Voz-off – (dando à chave) Toca a arrancar! Já estamos no quinto passo, à tua direita encontra-se a 24 de Julho - zona histórica de discotecas onde a noite é uma criança. Passa por cá mais tarde, mas no meu irmão mais velho de quatro rodas, o táxi, que conduzir ébrio não é comigo!
Voz-off – vira à direita, e tens de frente o Hospital Egas Moniz o teu sexto passo, muito bem. Este hospital tem o nome do único médico português que recebeu um Nobel por causa da invenção daquela coisa tão prática chamada lobotomia.

Voz-off – vira à esquerda nos sinais, e já à frente vais encontrar o sétimo passo e a casa do nosso presidente da república, o Palácio de Belém. À porta devem estar dois senhores muito quietos, diz-lhes adeus pois são os guardas de serviço que estão aí 24 horas por dia 365 dias por ano.

Voz-off – prepara-te para encostar á direita e quando vires uma placa a dizer pastéis de Belém páraaaaa!!! São o oitavo passo e a oitava maravilha do Mundo! Tens que provar um, pois se o não fizeres é como ires a Pamplona e não fugires à frente dos touros.

Voz-off – a barriguinha está melhor? Vamos lá em frente, mas sempre em frente, pois apesar do monumento à direita ser o histórico Mosteiro dos Jerónimos onde estão o túmulo do célebre Luís de Camões e do descobridor navegante Vasco da Gama e o atropelar de turistas poder parecer divertido é proibido circular na estrada em frente. É o teu nono passo. No Mosteiro dos Jerónimos funciona também o museu de arqueologia onde podes ver múmias a sério e ainda o museu do mar, onde encontras artefactos sem igual. Prepara-te para virar á esquerda no edifício giro que te aparece depois do jardim. Ainda antes te digo que podes ir ao céu aqui, pois à tua direita tens o planetário!

Voz-off – à tua direita tens agora a obra-prima do Centro Cultural de Belém, o teu décimo passo e onde a colecção do Joe Berardo pode ser visitada e a música e os espectáculos culturais são uma constante. La Palice não diria melhor! Vira à esquerda e novamente à esquerda e agora à direita. Para te orientares melhor, direito aos pastéis de nata novamente! Se tiveres tempo, pára para mais uma dose. Se não, segue em frente e vira à tua terceira à direita para os semáforos. Aqui vira à esquerda.

Voz-off – nada de acelerar, pois já de frente está a Ponte 25 de Abril que te leva para as belas praias da costa da caparica, e é o teu 11º passo. Diz o mito urbano que nas suas fundações ficaram uns poucos portugueses que suportam hoje a passagem de tantos outros.

Voz-off – à tua direita está o 12º passo, não estás a ver, olha bem mas cuidado com a estrada, é isso mesmo a linha do comboio que te leva até à 'terra dos ricos', nem mais, Cascais!
Voz-off – estamos quase no fim, mas nada melhor que mais um lugar para ires com o meu irmão de quatro rodas. À tua direita está o 13º passo, as Docas - onde a malta gira pára à noite para curtir a night! À semelhança da 24 de Julho, a diversão aqui é também garantida!

Voz-off – estás a conhecer olhá à Praça da Ribeira, olhá o cais do sodré, encosta-te à fila da esquerda que tens depois que entrar á esquerda no terreiro do paço para me levares a casa. Cheira-te a alguma coisa, cheira bem, cheira a Lisboa! É verdade... à tua direita está o Cais das Colunas, miradouro que te deixa ver o Tejo, Almada e Cacilhas e é o teu 14º passo.

Voz-off – toca a andar e prepara-te para uma entrada à Indiana Jones, pois o teu 15º passo é no fim da rua da prata, esta bela rua cheia de lojas de ouro e prata, tens que virar logo à direita nos semáforos, galgar o passeio e entrar na primeira rua à direita, a tua e a minha rua, a rua das estrelas, a rua dos douradores!

(começa a tocar um grande, grande amor de José cid - http://www.youtube.com/watch?v=Qed6htfatKQ) e na chegada o voz-off diz: muito obrigado! Adiu, Adieu, Auf wieder sehen, goodbye!

Para os momentos de pausa entre os passos:
(zonas movimentadas) voz-off – Olá Jeitosa, dás-me o teu número de telefone? / sou muita gira não sou? / (a cantar) quando quero ver aquele amor meu, pego na Go Car e lá vou eu! (loop 2X)
(em qualquer lado de pouco movimento) voz-off – aiiiiiii, tenho um pneu no chão!
(na 24 de Julho no retorno) voz-off – o que é que é amarelo por fora e leva pessoas dentro em Lisboa? (pausa) os eléctricos tradicionais de Lisboa!
(na 24 de Julho) – olhó buraco!!!!! Olha à tampa de esgoto!!!! Ui, estava a ver que falhavas.

Manter a classe num carro anão / e / Wacky


And the winners are: Luísa Oliveira e Andreia Moreira (já publicadados) e ainda Joana Mil-Homens e Vanessa Luz - estas num registo mais próximo da crónica.



Se vem fazer um passeio de Go Car, esqueça a capa da próxima Hola!. Reze para que o Famashow não ande nas redondezas. Ligue à cabeleireira a marcar uma máscara intensa. Assim que chega enfiam-lhe um capacete. E bem que pode dizer que a mise é de hoje. A figura de motoqueiro da aldeia é garantida.
Escolha um condutor de confiança. Que fique bem nas fotos, mas não demasiado bem (não vai querer ser o mono ao lado do figurão). A máquina fotográfica é importante. Esqueça a máquina de filmar. A meio do percurso vai perder a postura blasé e vai gritar tanto como os outros. E ninguém quer ter provas do dia em que passeou por Lisboa a guinchar como um macaco com o cio só porque foi ultrapassado por um carro “normal”.
Considere os outros condutores, os que têm nas mãos um carro que não um Go Car, como adolescentes com as hormonas em ebulição e você a gaja boa dos anúncios do Lux. Lembre-se das regras do Liceu: só apalpam o rabo ao último da fila. Não lhes dê confiança, esteja atento. Se a sua atenção não for suficiente e alguém lhe bater por trás, relaxe. Saia do carro com um sorriso calmo. Histeria não resolve nada e cria rugas. Deixe o “motorista” resolver as coisas e faça de conta que é um mero turista. Tire fotos, troque bitaites com os transeuntes. Se a polícia aparecer e perguntar pelos coletes, chame à superfície da pele todo e qualquer grama de progesterona, sorria, e explique que não sabe abrir o pequeno porta-bagagens. Já que está de marfim arreganhado, e caso valha a pena, sorria também para o condutor, vai tranquilizá-lo, uma vez que a esta altura ainda não percebeu bem se atropelou ou não uma criança de triciclo e já promete a Deus nunca mais tocar em substâncias ilícitas.
Depois de se juntar ao grupo, não se contenha: você foi o único a ter um acidente. O Universo ofereceu-lhe as luzes da ribalta, brilhe. Depois da adrenalina do acidente, vai sentir uma sensação dúbia: por lado apetecia-lhe ter sete mil olhos para controlar todo e qualquer veículo que circule em Lisboa a esta hora, por outro as regras da probabilidade explicam que já pouco lhe pode acontecer. Relaxe e desfrute, como uma lady.
Em caso de dúvida acene. Se vir que gritam, tiram fotos, ultrapassam (grande coisa, ultrapassar um veículo que, em esforço, chega aos 60 km/hora), acene. Não diga adeus, por favor, que isso é coisa de ex-concorrente do Big Brother em noite de autógrafos numa discoteca do interior centro. Acene com classe. Inspire-se na Rainha – Mãe, veja fotomontagens da Lady Di. Devagarinho, para as banhas do antebraço não cegarem o condutor.
Vai receber vénias e aplausos. Vai ser o alvo dos flashes. Você não se vai esquecer deste passeio. Lisboa também não se vai esquecer de si.

Joana Mil-homens




WACKY



Aquela manhã de sábado começou cedo, à porta do Hotel Amazónia, ponto de encontro com a Andreia e de partida para o nosso passeio matinal. De mãos escondidas nos bolsos descemos a Avenida da Liberdade a amiudar conversa até ao quartel-general da GoCar, na Baixa.
Já o sol estava solarengo, embora não parecesse, quando assinámos o contrato com a GoCar. Um momento próximo do matrimonial, firmado romanticamente e completado com a aposição do respectivo capacete. Seguiu-se o ambiente galhofeiro com a partida dos primeiros carros, algo parecido com as míticas ‘corridas mais loucas do mundo’.
Partimos comigo ao volante e Andreia à pendura, uma experiência que à primeira inalação de escape se tornou nostálgica, pois lembrei-me da minha velha acelera. Perdida nessa memória adolescente adverti Andreia para que tivesse cuidado com as gargalhadas em andamento, não fosse engolir alguns mosquitos. Mas ela não fez caso.
A primeira paragem foi no Mercado da Ribeira, segundo sugestão do GoCar das companheiras que seguiam à frente, Luísa e Antónia, já que o nosso estava teimoso e só falou mais tarde. Após duas voltas ao quarteirão e ao IADE, lá estacionámos. Foi aí que descobri a primeira simpatia do carro, diria, self-transportation. Pegando-lhe, o GoCar permite ser ajeitado milimetricamente ao estacionamento, uma facilidade futurista.
Mas estávamos ali com o propósito da primeira troca de impressões enquanto esperávamos pelo resto da malta. Quem chegou primeiro deliciou-se com um café no Mercado, coisa que eu cobicei. Quando ia tratar do assunto reparo que, mesmo ao nosso lado e contemplando o rio, seguia placidamente o resto da malta. Aquela que estávamos à espera. Voltei a recordar-me das ‘waky races’, daquele cãozinho a rir.
Adiante.
Lá nos fizemos de novo à estrada. Desse caminho destaco três momentos altos: o primeiro foi termos ficado parados numa fila; o segundo tem a ver com umas bocas do GPS por eu ter pisado as tampas de esgoto e o terceiro momento e, talvez o mais extenso, um par de olhos infantis colados ao vidro do carro que nos seguiu durante grande parte da 24 de Julho.
A paragem seguinte foi em frente aos ‘Pasteis de Belém’. O Pedro Alves e o Paulo estacionaram mesmo ao nosso lado, aproveitaram um espacinho junto a uma espécie de mini-betoneira. Depois atestámos de ‘pastéis de nata’ e fizemos a troca de casais. A Andreia assumiu estoicamente o comando pois foi caminho aberto para a corrida dos carros.
E fez-se o regresso. Pelo caminho inverso, e com o sol a dar. Há nossa frente Camolas e Joana Mil-homens, ela acenava às pessoas com a mão em conchinha. Eu tentava uma pose turista e punha o braço de fora, e a Andreia ao volante, contente que nem uma perdida mas a achar-me estranha.



NOTA: Dei voltas e voltas com este texto dos GoCar, intimidada com o desafio criativo. Tentei uns rabiscos e arrisquei umas coisas (bestialmente giras). Também uns delírios poéticos. Até trouxe o meu “primo” Carlos para a narrativa.
Casei-o com Rosa Maria, fi-lo vir à cidade essa manhã de Sábado, mandei Rosa Maria ao Grandela e fiz a vontade ao meu primo, uma hora de soltura, livre do carrego dos sacos a reboque de Rosa Maria. Achava eu, por gostar tanto de Carlos, que o pobre merecia um sábado melhor. Enfiei-lhe o capacete, fi-lo assinar o contrato e empurrei-o para dentro de um GoCar. Ora Carlos não conhece Lisboa como devia. Logo Carlos, o ‘Special One’ dos primos, por isso merecedor da viagem com o grupo criativo, já que sobrava um lugar, o meu, infelizmente ausente e com uma boa desculpa.
Bom, por mais tentador e benevolente que fosse a minha ideia, não era justo para Carlos que não gosta de motas nem de mulheres. Mesmo assim ainda havia espaço na história para um profético desgosto de amor, justamente afogado em ginginhas se Carlos seguisse as reconfortantes orientações do GoCar e, nesse caso, a ‘Rota da Madragoa’.

Vanessa Luz
PS (lfb): era de esperar uma quarta senhora na imagem a enfeitar este post. Não sei que se passou. Avisem-me por favor quando abrir o Workshop de Blogolândia para Néscios.

stand-down comedy ou o GPS hilário

grande trabalho do Pedro Alves, que só não ganhou o desafio Go Car porque violou o limite de caracteres com requintes:
Douradores Fernando pessoa
- Agora vamos voltar para a sede da GoCar, na Rua dos Douradores. Sabia que Fernando Pessoa trabalhou nessa rua? Os carros da GoCar são também fonte de conhecimento pois já se sabe que, também para o poeta português, as máquinas são perfeitas.
Marcha-atrás
- Enganou-se na rota. Vá por aí, vá. Já reparou que o GoCar não tem marcha-atrás? Antes que chegue a Polícia e o faça andar às voltas e voltas por Lisboa, é bom que se levante e carregue o carro até à via indicada. Porque com a GoCar, você também faz parte do veículo.
Despedida
- Foi um prazer partilhar este tempo consigo. Espero que um dia volte e que traga muitos amigos consigo, pois GoCar é sinónimo de diversão para toda a gente. (E no fim, quando estamos mesmo na Rua dos Douradores o GPS grita: VOCÊ É UM PERIGO AO VOLANTE).
Buracos
- Ora cá vai mais um. Eu sei que parece engraçado a forma como o carro voa em cada buraco pelo qual você passa. Mas este é o meu sustento e agradeço que não o destrua. Em todo o caso, terei sempre prazer em fazer-lhe ver o meu ponto de uma forma mais drástica. Posso sempre começar a dar-lhe indicações erradas e levá-lo até um sítio em que eu sei que se pratica o GoCar-Jacking. Tenho a certeza que qualquer praticante desta modalidade tratará o carro com muito carinho para depois poder vendê-los às pecinhas ao Ikea.
Residência oficial
- Buzine. Buzine mais. Se o Presidente vier ver o que se passa, dê-lhe um panfleto e faça-o aderir ao GoCar como viatura oficial da Presidência. Aproveite e imagine logo um slogan. Dou-lhe uma ajuda: Cavaco ao volante – mais perto do que é importante.

Trocar de frequência
- Eu tento dar-lhe todas as indicações possíveis para fazer com que chegue ao destino pretendido. Mas se já souber o caminho e estiver farto de me ouvir, pode sempre mudar de frequência para uma rádio nacional. Mas pense bem antes de o fazer. Já imaginou o que seria parar nos semáforos e ser ainda mais notado por estar a ouvir, no volume máximo, “YMCA” ou “I´m a Barbie Girl” dos Aqua?

Pastéis de Belém
- E aqui, pode deliciar-se com os fabulosos pastéis de Belém. E lembre-se, se lhe caírem mal no estômago não há problema. A GoCar pensou nesta situação e também por isso o veículo é descapotável. Se esperar até chegar ao Mercado da Ribeira ninguém vai notar o odor. Ponha-se confortável, e com esse capacete colocado, nem o vão reconhecer.
Quando estiver quase a passar da primeira hora ou da hora a que estava previsto o cliente voltar
- É só para o lembrar que a sua hora está a chegar...

Capacetes / figura ridícula
- Imagine o seguinte cenário: está a conduzir de uma forma descontraída o seu GoCar e é ultrapassado por um veículo Aixam. Aqui vai a sugestão: você está dentro de um carro ofuscantemente amarelo, que se conduz como uma mota, tem um capacete ridículo na cabeça e ainda pagou por isso. Não acha que já basta de decisões bizarras por hoje? Não se ponha a fazer corridas com um carro que nem precisa de carta de condução para ser conduzido.
Buzinão
- Isso. Buzine. Buzine ainda mais. Se ficar sem bateria para a viagem de regresso quero ver a cara de gozo dos que passarem por um sujeito de capacete amarelo a empurrar o GoCar para fora da estrada.
Noddy carro amarelo
- Ora muito bom dia. A minha pergunta é apenas e só esta: o que é que faz um cidadão/a tão respeitável como o/a senhor/a ao volante deste popó pequeno e amarelo? Será que tem dupla personalidade e pensa que é o Noddy?
Deixe conduzir o seu par
- Mas o que é isto? Nunca mais larga o volante? O seu co-piloto deve estar a adorar levar com o cheiro do escape enquanto o/a senhor/a se diverte a fazer pontaria aos buracos.
Referências ao tempo
- Pois é, cá estamos. Está fresq… E nem sequer está fresquinho para podermos começar a conversa de encher chouriços. Quer dizer, não está fresquinho para mim, acredito que a si, com a quantidade de vento que está hoje, as únicas partes do corpo que não tremem são as unhas. Mas não desespere. Lembre-se sempre que pagou para poder ter esta viagem.
ou
- Sol, calor, céu azul, está um tempo que apela mesmo ao divertimento. Este é um daqueles dias em que só nos apetece sair à rua e aproveitar ao máximo a temperatura que se faz sentir. Um daqueles dias de Verão que queremos que sejam recordados pela farra a que nós próprios nos propusemos. Com um tempo assim, este é, sem dúvida, um dia que apela a que seja mais tarde recordado pela diversão que tivemos. É só saber usar a imaginação. Por isso, cá vai a minha pergunta: com um tempo destes e com tantos destinos fantásticos por aí, o que raio está você a fazer, com um capacete enfiado na cabeça, a conduzir um mini carro por Lisboa?
Referências ao período do dia
- Aqui vamos, neste passeio à hora de almoço, espero que não tenha deixado de comer para não enjoar neste veículo. É que com a velocidade a que o GoCar se permite deslocar, só enjoa um duende e mesmo assim só se tiver comido o Pai Natal por inteiro.

introdução para a menina do GPS


menção honrosa do júri para este doce da Antónia Marinho (muitíssimo adequado à encomenda Go Car):


Para abertura de tejadilho panorâmico, em caso de chuva, prima 1;
Para ajustar os assentos de forma a proporcionar-lhe o maior conforto possível, prima 2;
Para fecho automático de portas, prima 3;
Para activar o airbag do passageiro, prima 4;
Para activar caixa de velocidades manual, prima 5;

Se este veículo não estiver equipado com as devidas teclas numéricas, não se preocupe. A viagem vai ser mesmo assim. Não pense que sou frágil e pequenote: sou baixinho para sentir o relevo com a maior exactidão possível e simples para lhe dar todo o protagonismo numa viagem garantidamente memorável!
Em caso de precisar de ajuda, contamos que a sua carta de condução seja o suficiente para se desenrascar. Em todo o caso, GRITE. Terá toda a gente a olhar para si e pode ser que algum lhe preste apoio. Acima de tudo, procure evitar entrar nas ruas em sentido contrário. A emoção é muita e garantida, mas a polícia não é da mesma opinião. No caso de se perder, é simples: o rio fica do lado esquerdo quando vai e fica do lado direito quando vem. Quando o trânsito estiver muito apertado e se sentir quase esmagado pelos meus parentes crescidos, SORRIA. Ninguém resistirá à simpatia de carro amarelo com mais estilo de Portugal. Experimente! Acene sempre que possível. Os lisboetas estão ao corrente que só passageiros de alto gabarito optam por este tipo de transporte e, como tal, associá-lo-ão à realeza. Por isso, serão inevitáveis aqueles irritantes paparazzi de rua que, a qualquer instante, o surpreenderão com as suas máquinas fotográficas. Vida de estrela….Difícil!
Agora, vamos lá passear! Iupiiiii!

1 2 3

Tema 1: Mozart
Homem sentado na poltrona de toda a vida. Na mão segura um cachimbo, apagado como a vida que subitamente deixou de lhe correr nas veias. Está de roupão, clássico, e chinelos, de cabedal. O ar é turvo, pelos infindáveis cigarros, cigarrilhas, charutos e cachimbos que sorvia de forma sôfrega enquanto escrevia crónicas toscas para o pasquim da cidade. Não tinha nome, apenas cheiro, intenso e pútrido. Não tinha ninguém. Apenas um velho gato, cheio de feridas, lhe lambia os pés, cheios de feridas. Apenas ele ainda não tinha percebido que agora ficava só e que em breve iria partilhar do destino fatal do seu dono. A música, a última que ouviu, foi banda sonora de vida.

Tema 2: The Strokes – you only live once
Marginal, 1996. O vento sopra quente, aconchegando os corpos que já exibem o tom invejável daquele verão. Há um grupo de amigos, de cabelos longos e oxigenados por carradas de “waxe” e champô de camomila, que avançam descomprometidos, de prancha match 7 debaixo do braço, em direcção à praia, em busca de mais um dia em cheio.
Tema 3: Morrissey – the first of the gang to die
Bairro alto, anos 80. Morrisey dá concerto exclusivo para membros da ordem dos decoradores de interiores, no Frágil. O concerto fora organizado por Nilton, membro honorário e fundador da ordem, cujos associados partilhavam de um fantástico gosto para camisas coloridas, jarras com design, música com ritmo e Homens.
João Camolas

obrigada

Nota prévia (pela derradeira vez): Ao contrário do que me é habitual, nos restantes 364 dias, HOJE não me apetecia escrever. O que aqui fica registado é mais um texto intimista (ou em palavras menos poéticas, mais um texto altamente egocêntrico por Andreia Moreira).

Exactamente. Obrigadinha por darem banda sonora aos meus pensamentos. Ao desespero que sinto (Mozart? Foram meiguinhos) porque acabou. Porra. Acabou. Era a alegria da semana (profissionalmente falando), a manhã de sábado. E eu sei do vazio que amanhã vou sentir e sei também da neura que vai trepar por mim (sem qualquer conotação de cariz sexual) invadindo-me e à qual ninguém que me é próximo conseguirá escapar (ah ah ah ah ah – riso maléfico da neura). Um aperto no peito com banda sonora. Obrigada por esta última partida, queridos formadores (estando a escrever num computador, far-vos-ia daqueles bonequinhos em que se usa : e um p).
Eis que na música um quase silêncio. O silêncio. (O ALA ou 'os contemporâneos' ou ambos, já nem sei bem). Sei que hei-de preencher este (quase) silêncio com mais palavras, com mais escrita. Sei que é o “destino” (para quem acredita e eu sou dessas) ao qual não posso nem quero escapar. Estou ansiosa pela próxima manhã de sábado em que acordarei cedo de novo, para rever todas estas manhãs de sábado e perceber tudo o que aprendi e tudo o que me falta aprender e terei agora de perseguir “sozinha” (sem vocês NCS, LFB e colegas) do lado de fora a instigar-me (quase a empurrar-me) a fazer mais e melhor. Espera, nos próximos dois sábados estarei em Cuba. Mas vá, nos seguintes reinicio esta caminhada.
Olha, no preciso momento em que sinto que já desabafei, a música a animar e de novo uma leveza no peito. Acabo assim esta escrita, FELIZ como comecei no dia 20 (09/08). Posso ter escrito apenas lugares-comuns mas é nestes que vivo intensamente tudo o que me acontece e vou escrevendo a minha história (YOU ONLY LIVE ONCE).

OBRIGADA Nuno, Luís e a todos os outros nomes* (IGUALMENTE importantes).
Hoje pintei os olhos para me dissuadir de chorar.
Adenda: não resultou.

escrita sob pressão musical

1.
Drama. Tragédia. Tristeza. Negro. Sinto-me a mergulhar no fundo do mar. Só água à minha volta e nuvens escuras sobre a minha cabeça. Silêncio profundamente pesado. O medo da morte.

2.
Estou cheia de energia, apetece-me dançar. O ritmo está a entrar pelo meu corpo a toda a velocidade. O meu corpo alimenta-se de música e move-se ao ritmo da melodia. Sinto-me intensamente forte. Segura de mim. Do que quero da vida. Viver freneticamente o dia de hoje sem pensar no amanhã. Arriscar, sem medo.

3.
Amor. Haverá algo melhor do que estar apaixonado? Ser insensato. Pôr o bom senso na gaveta e fechá-la à chave. Andar perdido, sem rumo. À espera de um olhar da pessoa que desejamos, à espera de um sinal que confirme que estamos em sintonia, a querer o mesmo. Paixão. A inflamar a alma de vida. Desejo. Medo de não ser correspondido. Medo do desconhecido em que nos transformamos, porque de repente também não conhecemos os nossos limites.

Mónica Cunha

músicas

Na praça discutem o preço dos cravos, varinas de aventais berrantes e vocabulário de fazer corar o mais analfabeto e ordinário dos taxistas com quem são casadas. As flores esquecidas pela discussão comezinha, pequena, falam entre elas, do horto em Fernão Ferro onde nasceram e cresceram, da existência vazia de significado a que estão destinadas. Resta-lhes esperar que uma doméstica de cabelo oleoso interrompa a verborreia acesa das varinas e as leve para uma casa onde terão a difícil tarefa de amenizar o cheiro a fritos e a São Bernardo acabado de chegar de um passeio à chuva. São cravos. A flor predilecta de gente cinzenta e feia que um dia saiu para a rua e quis mudar um país. São uma flor esquecida pelas grandes casas onde as jarras são de cristal e transformam a luz do sol, aquele que lhes sorria em Fernão Ferro, em pantones infinitos.
No metro, dois adolescentes comem-se. Um casal deslavado entreolha-se indiferente. O homem gala o rabo da adolescente e a mulher pensa na sopa que vai fazer. Tem o verniz encarnado das unhas a cair e as madeixas feitas com tinta de supermercado a precisar de reforço. Uma senhora de mise a cheirar a laca entra na carruagem. Tem o rabo gordo das horas na secretária da repartição de finanças onde trabalha e de onde saiu no instante em que o ponteiro dos segundos anunciou as quatro da tarde. Olha reprovadora para os adolescentes e pensa que os seus filhos, dois atados, jamais fariam figuras destas. Manda na família, nos vizinhos, na rua e até no café do bairro onde é a cliente mais temida. Tem os lábios finos e hirtos das ordens e críticas. É gorda e tem curvas, mas está longe de ser mãe, mulher ou musa.

Joana Mil-homens

death by music


Os textos que se seguem (supra) são o resultado do nosso último exercício. Uma brincadeira a partir da conhecida máxima "99% transpiração, 1% inspiração". A turma foi colocada perante a tarefa de escrever o que quisesse, quanto quisesse, durante a audição de 3 temas musicais não anunciados. A saber, um trecho do 'Requiem' de Mozart, "You only live once" - The Strokes, e "The first of the gang to die", Morrissey.

Perpassa um conceito de morte nesta escolha musical. Talvez uma morbidez melancólica justificada por ser o fim. Mas depois fomos almoçar e ressuscitámos ao 3º copo.


PS: who the f*** is Brenda Ueland?

sábado, 29 de novembro de 2008

Manifesto

Nós, os formandos do Curso de Escrita Criativa, leccionado no decorrer dos últimos 10 sábados, amantes fervorosos da escrita e das sessões terapêuticas de humilhação pública, e conscientemente cientes do longo caminho que falta trilhar para sermos verdadeiros criativos de sucesso, vimos através do presente Manifesto, pedir-vos, a vós forças superiores das Produções Fictícias, e à Fátima, que operem este pequeno milagre de abrir já no inicio do próximo ano o Escrita Criativa – nível II.Já agora aproveitamos igualmente o momento solene para reivindicar preços mais facilitadores de criatividade para aqueles que transitem do nível I para o nível II.Comprometemo-nos, caso o nosso pedido tenha sucesso, a garantir os bolinhos em cada sessão.

Os formandos do “ Hoje não há Bolinhos”

1. Susana Tavares
2. Margarida Santos
3. Catarina Carrola

(Para outras adesões deixar o nome na caixa de comentários)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os Mais Loucos Corredores de Escrita Criativa



Quando anunciaram o simulacro de sismo em Lisboa, ninguém esperava uma invasão tamanha de carrinhos amarelos, conduzidos aos pares por uns tais de criativos da escrita, que devidamente equipados com uns estranhos capacetes negros ao estilo Calimero goes Black, causaram o pânico dos transeuntes na rota Baixa – Belém, deixando mesmo, em alguns turistas, memórias de difícil esquecimento.
A partida deu-se, na Rua dos Douradores, sede da Go Car Tours, um dos mais conhecidos esconderijos de criatividade da Capital Lisboeta, com concentração prevista junto do Mercado da Ribeira, para alinhamento da mais louca corrida jamais vista pelos alfacinhas, e pelos outros também. Diz-se que o grupo era liderado por uma tal de GPS de voz melosa, que lhes ia ditando caminhos e comportamentos. Os mais estranhos parecem ter ocorrido face ao Hospital Egas Moniz, onde os corredores lançaram palmas e gritos de “urra” ao galardoado cientista português, incitando os populares ao mesmo comportamento desviante. Já anteriormente, na zona da Av. 24 Julho, mais precisamente junto às instalações do Ministério da Educação, há menção da GPS ter falado do costume português, de “atomatar” os edifícios públicos (Patrocínio - Lugar da Ti Jaquina, “onde o legume é sempre fresco, Mercado da Ribeira, piso térreo)
A situação mais grave, parece contudo ter ocorrido junto aos Jerónimos, onde no auge da corrida, o grupo terá sido abordado pelas autoridades policiais, que invejosos da magnitude, brilho e total incapacidade dos carrinhos amarelos em passarem despercebidos, montaram um verdadeiro cerco policial ao grupo, impedindo a boa continuidade da prova. Os “pontos negros” foram posteriormente vistos a entrar, em fila indiana (Patrocínio do Tandori Bastami), nos Pasteis de Belém, onde causaram tamanha sensação, que muitos dos turistas foram vistos a abandonar o local de pastel enterrado nos dentes e flyer publicitário na mão, recorrendo a táxis, eléctricos, e na maioria dos casos, às suas próprias pernas, numa estranha corrida em direcção à sede da Go Car Tours. Segundo relato da Protecção Civil, os corredores, confundidos pela população, com um perigoso grupo de doentes mentais evadidos, não pertenciam ao grupo de figurantes do simulacro.
João Mendes, um dos responsáveis pela GO Car Tours, veio igualmente a público negar responsabilidades remetendo o assunto para as Produções Fictícias, que perante a celeuma confirmaram tratar-se duma necessária ” intervenção à criatividade” dos formandos do Curso de Escrita Criativa.

GPS improvável

da Eva Mota

Bem-vindo ao Go Car, descontraia e aprecie uma das mais fantásticas viagens turísticas por Lisboa. Não se deixe intimidar pelo pouco espaço e pela estrutura duvidável, reservamos para si uma das visitas mais interactivas por Lisboa. Aperte o cinto, mesmo que perceba logo que não lhe vai valer de nada, e coloque a sua vida nas nossas mãos. Não lhe vamos indicar locais de perigo, nem dizer-lhe quando se enganar, muito menos indicar-lhe de seguida o caminho a seguir para retomar a rota correcta. Está por sua conta, go wild e viva Lisboa!
Nunca conduziu uma acelera? Não tem problema, se for abalroado por um camião do lixo não lhe vai valer de nada. Siga o instinto e rode a mão ao sabor do vento. Preparado? Não? É pena, terá que arrancar na mesma que isto é cobrado a 25€ à hora e temos que por o máximo de carrinhos amarelos na rua, para gerar burburinho. Colocou o autocolante referente ao seu curso no capacete? É bom que o faça, perdoam-lhe qualquer loucura se souberem que anda metido com esse pessoal das Produções Fictícias.
Vire na primeira à direita e siga a linha do eléctrico. Vire na terceira à esquerda, atravessando-se em frente ao carro que aparecer à sua frente. Siga em frente e vire à direita. Ignore o polícia na esquina e avance no cruzamento sem dar prioridade à direita. O nosso lema é infringir o máximo de regras possíveis. Siga as indicações para a Praça do Comércio e coloque-se em qualquer uma das três faixas à sua escolha, o ideal é atrapalhar ao máximo o trânsito já complicado de Lisboa. Mostre-lhe quem manda nas manhãs de sábado. Queria que lhe déssemos indicações históricas sobre este local? Mesmo que quiséssemos dar-lhe essa informação, não nos iria ouvir com o ruído à sua volta (mesmo com o som nos 100, a ponto de assustar qualquer transeunte) e com a emoção que está a sentir neste momento.
Siga pela 24 de Julho, vamos falar-lhe sobre o Cais do Sodré, o Jardim de Santos, o Mercado, o IADE, blá blá blá… Faça picanços com as motas que pararem ao seu lado! Engane-se no percurso, fure por ruas estreitas e em contra-mão. Reúna-se meia hora depois com os seus colegas e prossiga o percurso.
Siga em frente em direcção à Alcântara. Aproveite para fazer adeus a quem passa, distribua flyers e sorria. Está a causar mais emoção que o simulacro. Mais à frente as três faixas passarão a apenas uma devido a obras na via. Faça um zig-zag por entre os pinos de protecção e provoque o polícia no cruzamento à sua frente. Vale-lhe a fila de cerca de dez carrinhos amarelos que consegue fazer mais barulho que a sirene da Guarda Costeira e de um comboio de carga a parar o trânsito junto às Docas.
Lisboa é uma cidade incrível. Vê como conseguimos ter um pouco de aventura na cidade? Andar num Gocar em Lisboa pode ser em muito similar a um passeio pelo monte num jipe. A cada buraco sinta o seu osso rabicho a ficar mais doído.
Nunca comeu um pastel de Belém? Pare e aprecie. Ganhe forças para mais algumas infracções. Está a ver aquela estrada em frente ao Mosteiro dos Jerónimos que tem uma placa a indicar que é proibido circular de automóvel e o sinal de sentido proibido em ambas as extremidades da via? Ignore. Mostre aos turistas que os portugueses são malucos e percorra a via para trás e para a frente, dê três, quatro voltas na rotunda em frente ao Planetário. Vai ser de tal forma que o meu sistema ficará tão confuso que falar-lhe-ei do CCB muito depois de passar por ele. Se a polícia o mandar parar, faça um ar inocente e explique à autoridade que estava a procurar a saída. Discretamente.
Volte à origem pelo percurso original. Se tiver a sorte de se enganar no caminho pode ser que lhe dê informações turísticas que não lhe dei à primeira passagem. Boa! Estamos no caminho certo! Para me levar a casa siga em frente até à Praça da Figueira e faça mais uma infracção. Se tiver a sorte de um polícia não o impedir, vire à direita, sim, onde está o sinal de proibido, suba o passeio e vire novamente à direita na Rua dos Douradores. Esperamos que tenha apreciado a viagem. Sempre que quiser sair da rotina, procure os nossos serviços.

guião para carrinho amarelo

do João Camolas

(NOTA: nunca imaginei que um dia iria ao google images procurar Cláudio Ramos...)


Carrinho amarelo
Olaaaá! Sou o Cláudio Ramos e vou ser a sua bichinha de serviço, num guided tour pela esplendidérrima cidade de Lisboa!
(baixinho e em voz máscula)

Caso você seja “o” Cláudio Ramos, estava claramente a brincar e aproveito para lhe dizer que sou fã do seu trabalho. E do Crispim! Beijos à Fatinha!
(Abichanando outra vez)
Não é? Ai filha que me tiras um peso de cima.
Nesse caso toca a deitar as mãos ao je, mas com jeitinho, que o motor já não aguenta tanta emoção! Antes de dar à chave podia era sair para dar um empurrãozito, que isto pega melhor assim... Não quer? Ok, prontos. Deve ser por isso é que tá gorda. Vá, dê lá à chave.
Começa a viagem
A nossa volta hoje é até Belém, terra do JC, um bate chapas meu amigo.
Por mim, não íamos além do Bairro, tomar um copo ao Purex, mas enfim... pagam-me é para isto.
Duas curvas depois...
Reza a história que, aqui mesmo, nesta esquina, no ano da Graça de Nosso Sr. Jesus Cristo, de dois zero zero oito, se deu o primeiro embate por trás da Gocars.
Olha que se a inveja empanasse... A mim, que já ando na Vida vai para 15 dias, é que ninguém me abalroa, assim, à bruta.

A viagem prossegue
Ai amiga, deixa que te diga uma coisa. Esse capacete não te fica nada bem. Pareces o Calímero, com aquele ar tristonho, com a casquinha enfiada pela cabeça, coitada da bicha. Ainda se parecesses a Abelha, essa sim é que é uma mulher de sorte.
Chegam ao Cais do Sodré e começa a cantar
Ai Cais do Sodré, ai Cais do Sodré... Olha aqui é zona fina. Local imortalizado para todo ó sempre, por esse grande sr. do fado, o Dom Rodrigo, como eu lhe chamo.
Ali à frente é o mercado da ribeira. só vale pelas leguminosas porque de resto, enche-se dumas velhadas nas matinés dançantes... do pior. é um cheiro a naftalina que me entope o escape!
Já na 24 de Julho
Esta av. é a Holliwood Boulevard de Lisboa. É só glamour à esquerda e a direita. Foi aqui, na Kapital que Pedro Santana Lopes viu pela primeira vez o buraco da Marques, perdão, do Marquês. Foi ali no McDonald’s, que o Martins Moniz comeu a última bucha antes de ficar com ele entalado no Castelo. É só história e cultura a borbulhar nestas ruas!
Olha, aí junto ao rio está esse ex-líbris de Lisboa - o Queens! Antigamente, ainda eu só tinha duas rodas, ia p’raí curtir com duas motoretas amigas, era a rasgar até de manhã. Só de pensar nisso falta-me a gasolina...
Em Belém
Chegámos ao Mosteiro dos Jerónimos, onde um dia vai ficar para a posterioridade esse grande vulto do jornalismo nacional, o Sr. Carlos Castro. Caso não saibam foi mandado erguer pelo nosso Presidente, o Dr. Cavaco, ainda ele era primeiro.
Tenha atenção aqui para não sermos atropeladas por um norueguês ou inglês descontrolado.E prontos! Acabou. Agora toca a levar-me de volta à toca que tenho compromissos daqui a pouco. Tenho de ir à oficina afagar o bujão e mudar os pistões que à noite tenho festa!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ainda um Perfil



outro bom exercício, por Luísa Oliveira


Ana tem 42 anos, leva dois filhos pela mão – Guilherme e Miguel (como o pai), de 7 e 9 anos. Está separada do marido desde 2004 e ficou com a guarda das crianças. Antes de se divorciar, tinha uma vida folgada.
É engenheira química e trabalha para o Instituto Nacional da Água. Ainda é funcionária pública, portanto. O ordenado chega-lhe à conta para educar os dois filhos. O marido trocou-a pela secretária (mais nova, claro!) e pouco liga à descendência, monetária e afectivamente falando.
Ana está bem conservada para a sua idade. Mede 1, 70 e pesa 60 quilos. Gosta de se arranjar pela manhã, mantém as unhas impecáveis e o cabelo com as madeixas sempre em dia (feitas em casa desde que o dinheiro escasseia). Usa sempre sapatos de salto alto e roupa de executiva (quando precisa de algo novo, pede emprestado à irmã, mais bem posta na vida do que ela).
Tem alguns fãs no trabalho, casados e maus partidos. Que ela despreza, obviamente.
Ainda não voltou a estar com um homem, desde que se separou do marido, com quem namorava desde o liceu. É mulher de um homem só, portanto.
Mas, no seu íntimo sonha em vingar-se dele, arranjando um namorado mais novo, musculado e com brinco na orelha. Falta-lhe a coragem, pois já nem se lembra como é que se namora. Além do mais… há os dois filhos – dois verdadeiros terroristas – que não lhe dão a mínima hipótese de arejar. Ocupam-lhe todo o tempo livre e não há quem suporte ficar com eles para ela poder fazer vida de solteira. Os pais já são bastante velhinhos e vivem na terra, perto da Guarda. A irmã tem mais do que fazer. O marido é quando o rei faz anos (a secretária não tem paciência para os meninos insolentes). E não tem dinheiro para babysitters.
É por isso que, quando entra na escola todas as manhãs, só consegue disfarçar o ar de quem já foi atropelado por um comboio, à custa de uma maquilhagem bem aplicada (e de muitos anos de prática).
As manhãs são o seu maior tormento. Acorda às sete para poder sair de casa como gosta, sem lhe assentar uma poeira. Acorda os miúdos meia hora depois, que se levantam já a resmungar. Veste-os, arranja-lhes o pequeno-almoço. Não há tempo para mimos ou beijos. Lá em casa, eles movem-se mais ao som de gritos. Até os deixar nas aulas, às nove, na escola pública da zona cosmopolita onde vive, em Lisboa, estica os nervos até ao infinito.
Volta para casa por volta das sete. Os filhos já lá estão com Ermelinda, uma empregada que faz 3 horas por dia, e os vai buscar às cinco e meia. Ela deixa o jantar amanhado para os meninos. Ela só come sopa e um iogurte. Todos os dias.
Às 22h30 já está na cama a ver o CSI. Adormece com a televisão ligada, abraçada à almofada, sonhando com os tempos de casada, quando era feliz e não tinha problemas de dinheiro.
O seu maior escape são as horas de almoço, quando come um queijo fresco aberto numa salada de alface e tomate, ao balcão do restaurante que fica mesmo ao lado do Instituto. É durante esse 45 minutos que pode falar á vontade com as colegas, com quem se dá muito bem, sobre as suas infelicidades com os homens. Há outras histórias parecidas à dela e isso dá-lhe conforto.
Já andou num ginásio, onde ia religiosamente três vezes por semana, mas com o divórcio teve de cortar nas coisas menos importantes, como essa mensalidade.
Anda de olho num giraço que almoça no mesmo sítio que elas, mas ele parece nem a ver.

Conselhos úteis para controlar a febre-amarela que alastra em Lisboa,

ou como evitar alguns confrontos com a autoridade a bordo de um Go Car

- candidato ao título na "Encomenda Go Car", por Luísa Oliveira


1. Não vale a pena tentar acelerar até aos 80 km/h – mesmo em prego a fundo, em plena recta da Avenida 24 de Julho, os go car não ultrapassam uns seguríssimos 55 km/h;

2. Se não se importar de servir de agente publicitário gratuito, divirta-se a distribuir a todos os curiosos os panfletos que estão no tablier. Pode ter a surpresa de os encontrar, assim que regressa à sede da go car, prontos também eles para um passeio;

3. Não resista. Ao passar mesmo em frente aos pastéis de Belém, estacione. Entre na pastelaria, de preferência sem tirar o capacete. Dá sempre aquele ar de quem entrega pizzas e, com sorte, passa à frente dos outros gulosos;

4. Evitar o impulso teenager de fazer corridas naquele espaço vazio em frente ao Mosteiro dos Jerónimos. Além de correr o risco de atropelar algum turista, o mais provável é ter um encontro (quase) imediato com a autoridade: «Não sabe que aqui é trânsito proibido?!»;

5. Apesar da tentação e da adrenalina, não rodopie vezes sem conta na rotunda em frente ao Museu da Marinha. Serve apenas para estontear a menina do GPS e, com isso, ficar sem perceber se é ou não suposto ir até à Torre de Belém. Se insistir nesta actividade, ela ficará muda até estar no caminho de regresso a casa;

6. Não entrar em ruas de sentido proibido ou estacionar em espinha. Os carros amarelos não têm marcha-atrás, logo vai acabar por ter de sair do veículo e usar a força para empurrá-lo até à posição certa;

7. Dar ouvidos à voz feminina do GPS quando ela diz para evitar as tampas de esgoto. Acrescente-se também o conselho de fugir dos buracos, a não ser que as saudades da feira popular apertem;

8. Se optar por seguir as indicações do GPS para entregar o carro, vai voltar a ter problemas com a polícia. No final da Rua da Prata, há que ignorar um sinal proibido para conseguir entrar na estreita Rua dos Douradores. A autoridade que por ali anda desloca-se de Segway e é pouco dada a tolerâncias. Por isso, aproveite quando os agentes estiverem de costas ou a passear no seu igualmente divertido veículo para acelerar e desaparecer no horizonte. Caso contrário perderá mais uma hora até conseguir cumprir a lei ou será «autuada!»;

9. Ter atenção aos cruzamentos. Ninguém está à espera de o ver nestes preparos e, com o espanto, podem mesmo chocar no seu carro;

10. Gritar e buzinar como se não houvesse amanhã, pôr a música bem alto, dançar e usar todos os artifícios para dar nas vistas – como se o facto de ir de capacete na cabeça, sentado de pernas esticadas, num carro amarelo que funciona como uma acelera, não bastasse.

A história de 'Pressas'



encomenda Go Car - outro forte candidato, por Andreia Moreira


Reza a história recente que um dia (há quem diga 22/11) um grupo de pessoas, com uma paixão desmedida pela escrita, foi até à Rua dos Douradores para uma aventura nos Gocar. Saíram 11“amarelinhos”. Lamentavelmente, um desses carrinhos (acelera disfarçada) finou-se na atribulada viagem e subiu ao paraíso automóvel onde está estacionado atrás do Herbie, seu primo em 7ºgrau. Os seus companheiros chamavam-no “Pressas” carinhosamente, embora de forma irónica, por não andar a mais de 50Km/h. Queria que as pessoas vissem tudo com calma “Não vos quero com as pressas costumeiras” gritava aos passageiros instigando-os a viver intensamente a experiência e a apreciarem o simples facto de sentirem o vento no rosto. Consta que morreu feliz na rota “BELÉM”. O que lhe ficou registado, por último no GPS, a isso leva a crer. Ora ouçam:
Os dias erguem-se soalheiros, cada vez que saio. É como se o sol soubesse que o tendo como aliado, vos posso fazer mais felizes. Ou isso, ou simpatiza comigo porque me visto da mesma cor. Seja como for, raras são as vezes em que não me acompanha cúmplice, erguendo-se sobre a cidade e incidindo nos ângulos que a tornam ainda mais bonita aos vossos olhos. Paramos? Vocês é que sabem. Vão explorar a pé os sítios onde não posso circular que eu espero aqui. Não deixem valores aí atrás! Tenho fechadura fraquita. Vocês são divertidos. Às vezes não me ouvem e tenho de vos pedir que me dêem uma suave pancadita na coluna direita que é meia preguiçosa. EU DISSE SUAVE! Temos outras rotas por isso tratem de voltar mais vezes. Vejo-vos genuína felicidade, sinto laços de amizade a estreitarem-se, percebo estar a ser um momento IMPORTANTE. Sei que a esta hora já esqueceram as complicações das vossas vidas e se permitem uma alegria de criança. Acenam às pessoas, perdendo a vergonha e poucas são capazes de ignorar o cumprimento. Uma senhora numa paragem de autocarro chegou a lançar-vos beijinhos em gestos efusivos. Viram? Talvez tenham roubado sorrisos à sua aparente solidão. Confesso que me estou a passar contigo que me guias, a tocar o “Jingle Bells” – dizes tu – a melodia não se parece remotamente com a música natalícia. É apenas a minha buzina monotónica a tocar incessantemente. Também estou a ficar apanhado dos amortecedores. Eu bem vos alerto - com o volume a 100 - “Olhem as tampas! Cuidado com a linha do eléctrico que me despisto!” e vocês, maçaricos, vão a todas. A 24 de Julho está a ser um pesadelo, sei que já perdi peças neste trajecto. Estão-me a castigar pelo insignificante pormenor de me faltar a marcha-atrás? Jerónimos. Hey o que é que estás a fazer? Não tens jeitinho nenhum para as curvas, valha-me Nosso Amortecedor. Peões connosco? Andam em sentido contrário? Senhor polícia ponha ordem niiisto! Aiaiaaaa! Ai Santo Carburador que já fui…Parceiros? - Voz fraquinha - Digam aos nossos proprietários que não castiguem o grupo! Não há melhor recompensa (depois do gasóleo e da limpeza a seco) do que estas gargalhadas sinceras. Parto feliiiz!

Epílogo: É baseando-me na última frase registada no GPS, que de forma brilhante constato que o “Pressas” morreu feliz.

CORPO DE TEXTO: 2996 caracteres com espaços (O epílogo não conta)