Requiem - Mozart
Ondas que rebentam nas tuas praias, amor. Rex, sou o teu rex, qual requiem de cada onda que a paixão faz morrer em ti, minha praia. O sal escoa-se por entre os grãos de areia que são os teus dedos, que te absorvem cada gota e me deixam dentro de ti. Entre cada vaga, momentos de calma; o ruído da onda a crescer, a água a deslizar num ruído crescente sobre mais água, até rebentar na areia e nós rebentando em nós, até a onda parar e recuar de novo até ao mar. Sol. Está sol na nossa praia, aquecendo as ondas e a areia que nós somos, quentes que estamos como o sol e nem a frescura das ondas arrefece. Vento. Não há vendaval que nos separe. A bandeira vermelha ondula e não nos consegue parar. As nuvens galgam o céu e, como nós, fundem-se no azul, fundem-se numa imagem única de céu, sol, mar, areia, vento. Nós somos o azul do céu e o mar e o mundo e a vida toda num só momento.
The Strokes – you only live once
Fomos no comboio da tarde. Estava cheio das míudas que, no comboio, não tínhamos coragem de abordar mas que, dentro dumas horas, estariam nos nossos braços na matiné da tarde. As matinés de sábado eram assim: o comboio até Cascais, o passeio a pé pelo Santini até à discoteca. Martha and the muffins abriam a tarde de felicidade, glorificada pela meia-hora de cada passagem de slows. Agarrados como lapas à miúda que tinha estado a olhar para nós toda a tarde até a música amansar. Os beijos, os abraços, a ternura, até à nova matiné.
Morrissey – the first of the gang to die
Vi uma esplanada cheia de nada e com vontade de ali não estar. Vi um largo com pombos parados, quietos como se com medo de serem notados. Vi uma matilha de cães vadios no centro da capital. Não havia autocarros a passar. As árvores estavam carregadas de folhas verdes naquele Outono. O céu estava verde. As motas passavam em silêncio. As ambulâncias estiveram paradas. Ninguém morreu. Várias pessoas adiaram o seu testamento. Não te tive nesse dia.
Pedro Vozone
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