A ópera continuava, sonante. Em cena, Turandot ordenava aos seus criados para correrem toda a cidade à procura de alguém que soubesse o nome do príncipe desconhecido. Aquele misto de sentimentos, a raiva misturada com a surpresa, o desespero misturado com o prazer afloravam em Turandot. Só equacionava salvar-se, encontrar a chave que manteria a tranquilidade da ausência da mudança. Quem seria aquele príncipe que ousou desafiar as suas leis? Nessa noite, ninguém dormiria. Intrigada, Matilde pensava: Onde raio se meteram eles?
Ao mesmo tempo, Carlos e Mariana corriam nos becos da rua do Porto. Tinham decidido abandonar a festa e os amigos, sem que ninguém desse por isso. A fuga garantia a felicidade que lhes estava prometida e não podia ser adiada. O cachecol servia de corda rebocadora para que Mariana aguentasse o fôlego da corrida.
Num 3º andar, batia à porta Carolina. Deixou para trás tudo o que caracterizava a vida dela naquele momento. Tinha tomado uma decisão: recomeçar. Como todos os recomeços, fazia-o a chorar porque há que reequilibrar os fluidos para que tudo faça sentido outra vez. Levava o saco de viagem na mão, com tudo aquilo que era prioridade na vida dela. O resto, que ficasse para trás. Traria memórias que não lhe interessavam. Desceu as escadas a correr e, no momento em que trespassou a porta, cortou a meta: o cachecol de Carlos e Mariana jazia no chão.
Antónia Marinho
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