segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Vamos matar os formadores



exercícios do último dia sobre NCS



O Nuno morreu. Em 2077, já era altura de aqueles que no princípio do século faziam o povinho rir irem à vida – ou desistirem dela. Ergue-se agora uma nova era. Betina Botox, chegou. Acabaram-se os aforismos de pastelaria e as observações sagazes de Dona Bina. O sentimento geral é de alívio. O mundo vivia assombrado desde que, em 2008, Nuno Costa Santos achou ser seu dever incentivar um bando de energúmenos a escrever de forma “criativa”. Foi o princípio do fim. Ícone de uma época em que o blogue era uma forma de disseminar piadas de algibeira o Nuno influenciou muitos dos que se vieram a notabilizar nessa plataforma. Numa era em que se sabe que o humor é obsoleto, as palavras e ensinamentos de Nuno cairão depressa no esquecimento. O Nuno morreu esta madrugada, esperamos que os outros se sigam.


Joana Mil-Homens


Ele já não está entre nós. Deixou-nos, ontem, o homem que se destacou no mundo da moda cosmopolita. Era considerado um Deus no mundo das passerelles. Foi vítima de ataque cardíaco, quando o seu mais jovem manequim lhe revelou que é heterossexual. Nuno Costa Santos ficou conhecido como o primeiro homem a fazer capa na Vogue. Começou a carreira aos 25 anos, quando desenhou os cortinados que a sua tia, anos mais tarde, lhe ofereceu como meias. Criou também as camisas que Dunga leva para os jogos do Brasil e as que vestem Herman José no programa “Roda da Sorte”. Foi casado com Brigitte de Sousa durante 5 anos mas a relação termina quando Nuno Costa Santos assume a sua paixão pelo filho mais velho, Jeremias.
Fora da moda, escreveu ainda o romance auto-biográfico “Melangótico”. Tinha um Honda Civic comprado na Feira da Ladra, no Verão de 1992, que aproveita agora para colocar à venda, com este anúncio.
Nuno Costa Santos foi, para muitos, o rei da fashion life portuguesa.
O outro, com um nome igual, vai continuar a escrever para rádio e televisão.

Pedro Alves


Nuno Costa Santos morreu esta manhã, enquanto dava uma aula de escrita criativa no Hotel Amazónia, em Lisboa. O coração do famoso guionista açoriano não resistiu a tanta criatividade espontânea do grupo que se auto-denomina “Bomba Criativa”.
Para a posteridade, fica a sua extensa obra literária, da qual destacamos, a telenovela, escrita em parceria com Luís Filipe Borges, um dos maiores sucessos de sempre da TVI: “Rir para não chorar”.

Mónica Cunha


Deu ontem a sua última gargalhada Nuno Costa Santos. E com ela outras tantas ficarão por dar. Guionista, Costa Santos foi autor de infindáveis linhas que muito animaram este país e, no entanto, sem nunca retirar uma peça de roupa publicamente.
Natural de São Miguel, começou cedo a fazer os outros rir. Os pais dizem que a primeira palavra - rabo - soltou-lhes o primeiro sorriso. Aos 7 anos, escreveu a primeira graçola, ao satirizar o anormal traseiro da sua professora de então, D. Efigénia. Esta fixação revelou-se mais tarde vencedora, ao receber o primeiro prémio da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, pelo melhor sketch sobre obstipação.
Aos 40 anos, Nuno foi atrás do sonho e tornou-se no primeiro guionista português a “ganhar” um Óscar. Este episódio suscitou particular empolgamento de todos os portugueses: bandeiras voltaram a desfraldarem-se nas janelas para receber o guionista, T-shirts impressas com a sua cara, cachorros passeavam airosamente bonitas estampas do humorista, até que se descobriu que tudo não passava de um equívoco e que Nuno, afinal, tinha ganho um Óscar mas para melhor guião para filme pornográfico, pelo seu trabalho na película: '(B)analidades no Convento'.
Personagem tímida, mas detentor de uma capacidade anormal para fazer rir, sempre se sentiu feliz por fazer os outros felizes. Aliás, foi essa a sua motivação de vida: dar cor aos outros num mundo a preto e branco.


João C.


Experimentador de contemporânea genialidade, guardava em si o mistério da incerteza de um sim ou um não, de um aprovado ou desaprovado, por baixo de um esgrouviado penteado assimétrico para o lado esquerdo. De face robusta e maxilas proeminentes, não escondia uma boca cheia de palavras quando falava - tantas eram as que queriam sair que muitas lá ficavam -; o português dos Açores preenchia-lhe o discurso.
Jovem, de tez clara contrastada com tons escuros das suas vestes usuais, não conseguia deixar de transparecer uma cordialidade e humildade que muitos ousariam usar. Suas obras ficavam em segundo plano no dia-a-dia com excepção dos diálogos acesos com colegas de profissão. Há que lembrar um tête-à-tête com Nilton, um verdadeiro confronto de pesos plumas corpóreos, pesos pesados intelectuais. Num mundo onde não há vencedores nem vencidos, NCS foi um lutador por excelência onde guerreava pela satisfação de ter ideias que outros haviam pensado.
“Porque o que tem que ser tem muita força”.

R de Albuquerque


Morreu no sábado passado, mas não subiu aos céus. Ficou-se pelo caminho. Ainda pensou em ir, apenas porque seria o mais natural. Em vida, ainda que curta, nunca partiu muitos pratos, foi o filho que qualquer pai deseja ter, o marido exemplar, o pai extremoso. Era querido por todos no seu universo. Não se lhe conheciam inimigos, se bem que houvesse alguns rumores acerca de um tal Borges, seu conterrâneo e camarada de algumas aventuras profissionais. Ele é, até ao momento, o principal suspeito de o ter empurrado para o Tejo, depois de uma acesa noite de tertúlia e escrita criativa, causando o seu afogamento. O alegado assassino continua foragido. Mas isso agora não é para aqui chamado…
Foi por ter tido uma morte ingrata, nada glamourosa e ainda por cima gelada (a sua autópsia ditou hipotermia) que NCS (como era carinhosamente tratado pelos seus pares) se quis vingar da vida pacata que levara. E pela primeira vez, ser diferente daquilo que se esperava. Consta que pelo caminho, à entrada do purgatório, encontrou dois malfeitores que o desviaram da subida aos céus. Visto ter-se finado antes do esperado, decidiu ceder – pela primeira vez na vida, oops! já não foi em vida – a uma tentação. Esqueceu JC e ficou-se pelo purgatório, o sítio ideal para ele. Era o céu, sem o ser. Não era o inferno, mas para lá caminhava. Perfeito. Assim não precisaria de tomar partidos. Na caixinha onde a sua mulher ainda guarda as cinzas, mesmo em cima da máquina de lavar a loiça, lê-se agora: foi feliz depois de morto. É por isso que não consegue atirá-las ao Tejo, como era de sua vontade.

Luísa Oliveira