terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Etelvino, um tuga à antiga

O João Santos teve a despedida de solteiro, o casório e a lua-de-mel, mas ainda arranjou tempo para fazer tpc's em atraso. Belo perfil. Etelvino podia perfeitamente beber minis com o serial-killer do João C.
Homem pequeno, “cinquentão”, simples, chico esperto.
Veio novo (16 tenros aninhos) para Lisboa viver com um tio cuja ingenuidade era tão grande como a honestidade, nenhuma.
Vivia sobre o café do tio e apesar da 4ª classe tirada a ferros (especialmente o ferro com que o pai lhe batia pelas más notas e lhe deixou nas costas marcas da necessidade do trabalho árduo) , apanhou as manhas nada coerentes com os ensinamentos de seus pais, que ainda viviam em Manteigas com os seus 13 irmãos, rasando a pobreza.
Aos 18 anos tinha passado tantas notas de 100 escudos por debaixo do nariz do tio como mulheres pela cama, nenhuma paga mas a todas sempre prometidas a propriedade do café.
Aos 20 torna-se dono do café e inicia novo negócio – compra de casas velhas a preço baixo, recuperação pelas próprias mãos ou de dois rotativos negros ilegais a quem nunca paga e venda a preço inflacionado. Mantém o sotaque e discurso simples, merecedor do título de “parvónio”. Rapidamente passa da venda ao aluguer, mais lucrativo – 10 brasileiros, T0, Intendente, 300 contos não declarados.
Aos 30 casa com Arnaldina, a moça mais bela de Manteigas, 15 anos mais nova, daquelas que quando se fala do marido, se diz facilmente “o seu pai disse-me…”, e que rapidamente se torna tão “fresca” como seu marido, a quem encorna com o homem dos donuts.
Hoje aos 50, a fidelidade de Etelvino é tanta como aos 18, o cabelo branco já vai aparecendo mas o sotaque e o ar de agricultor que acaba de chegar à cidade mantém-se.
No testamento não declarado (nem à Arnaldina) estão um milhão de contos espalhados em vários bancos, três cafés, cinco moradias, 12 prédios e 300 inquilinos (200 brasileiros e 100 russos, malta porreira que paga e não pia, bastando a ameaça dos amigos “vestidos à SEF” para os calar) e o mesmo Mercedes velho do tio, pois há que manter as aparências.
Não se lhe conhece outro casaco há anos, tal como as camisas do tempo da outra senhora, nem palavras na boca como “gastar” ou “novo”, excepto quando comprou o Mercedes à Arnaldina para acabar com os “pulos na cerca” com o homem das cervejas.
A mulher entra para trabalhar às 6h30 todos os dias no antigo café do tio, os outros dois estão na mão dos filhos. Etelvino passa o dia a comprar, arranjar e alugar casas e faz o fecho do café do tio com os bêbados da zona, amigos, a quem oferece um copo depois de roubar três e a quem diz que a empregada nova (com quem dormiu pelo menos cinco vezes, o mínimo) mandou-a embora porque era mais ladra que o Sócrates!

1 comentário:

LFB disse...

REVISÃO:

excelente perfil, João. Sobretudo tendo em conta que não estiveste presente na sessão respectiva. Cumpre todos os factores essenciais e, apesar do carácter rasca, dá vontade de conhecer este Etelvino. Obrigado pelo esforço e parabéns!

ps: já o sketch enviado (2º) está fraquinho... Demasiado curto e com pistas enganadoras: porque é que o cigano se chama Amor? Porque é que o facto de o filho ser igualzinho a ele - coisa difícil de se arranjar - justifica que todos os seus produtos de contrafacção sejam legais? É confuso e não percebo bem a punch.