segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

obituários de LFB



último exercício do curso: vamos matar os formadores!


Com um brilhozinho sinistro nos olhos, Luis Filipe Borges foi “desta para
melhor”. Para trás deixou meia dúzia de pastéis de nata, uns quantos códigos
empoeirados na estante, um moleskine com piadas de mau gosto e a quota das
Produções Ficticias por pagar. Assim o deixou escrito: “quando morrer, quero ir
todo “nuzinho” e apenas trajar a minha boina”.
Desde criança que mostrou aptidão para a escrita e para o discurso, não eram
raras as vezes que em que na base das Lajes se ouvia um “madafucka”
estridente ou uns sarcasmos sobre as orientações sexuais dos habitantes de
Rabo de Peixe. Mas o arquipélago das 9 ilhas era demasiado pequeno para ele,
queria mais, queria o continente, queria a capital, queria o mundo. É certo que
não o conquistou, mas escreveu uns livrinhos engraçados e deu uns quantos
workshops de escrita criativa. Pelo meio ainda contribuiu para a decadência da
televisão portuguesa com uns seriados policiais e uns talkshows de variedades
várias.
É sempre uma perda para a humanidade quando alguém “assim assim” morre.

Catarina Carrola


LFB, ex apresentador do programa da tv 2 a “revolta dos pasteis de nata” advogado e escritor, quinou a passada quinta feira por volta das 7 horas da manhã depois de um prolongado enfarte do miocárdio enquanto vegetava em sua casa. O corpo foi encontrado sorridente, despido, suado e coberto de bolinhos de chocolate. Ao seu lado encontravam-se variados exemplares de escrita, desde a comédia ao drama, passando por telenovelas e pequenos sketchs.
Luis será recordado entre os seus amigos pelo riso alarve e contagiante, pela forma como sorria e fazia sorrir, pela sua boina caractrística de quem tem excesso de testosterona.
A forma como espalhou magia quer nos bastidores quer nos palcos será para sempre recordada. Inspirou novas gerações, criou novos criativos e mostrou que o melhor da vida são as memórias que deixamos para outros recordarem.
A jantarada de comemoração será na tasca do Alfredo no Domingo pelas 19 horas, onde são esperadas centenas de amigos.

João Mendes


Faleceu, há precisamente 24 horas, Luís Filipe Borges. Podíamos (e talvez vocês o façam) chorar amargamente a sua partida, mas ainda estamos indecisos; ainda não sabemos se tal figura merece que toda a nossa face seja impiedosamente lambida por lágrimas que facilmente podem ser questionadas. Mas adiante, passemos para uma matéria onde nos possamos sentir mais confortáveis.
A morte de Luís Filipe Borges está, com efeito, a gerar controvérsia junto da família do defunto, pois ninguém, nem sequer uma pessoa, está com vontade de assumir as despesas para aquele que seria o funeral de sonho que o mesmo tinha idealizado em vida. Porém, ainda não sabemos o desfecho desta situação, uma vez que não conseguimos chegar à fala com nenhum dos amigos do falecido.
Não desesperem, possíveis fãs do homem da boina, pois ainda há esperança que as últimas vontades do morto sejam cumpridas. (Não sabemos é se amanhã nos deixam utilizar um pouco de página do jornal para que possamos informar os leitores dos acontecimentos que possam vir a ocorrer…)
Até lá, lamentem. Nunca ninguém disse que seria fácil, também nunca ninguém disse que seria tão difícil, mas enfim… lamentem.

Rita Oliveira


Finou-se Luís Filipe Borges. LFB para os amigos e para os formandos do curso de escrita criativa. Um gajo com o coração ao pé da boca de onde saem disparadas e sem qualquer controle todas as emoções e mais duas ou três ou quatro. Nuno Costa Santos, seu amigo de longa data, tinha sérios problemas em refrear o seu entusiasmo e terá, em nome da amizade, uma ou outra vez procedido ao seu amordaçamento. Consta que a amizade não esfriou apesar disso e LFB assim que se apanhou sem a mordaça gritou “Acho que vou fumar mais um cigarro”. LFB era um homem de paixões, paixão pela escrita, pelo humor, pelo Batman interpretado pelo Heath Ledger (fodasse!) pelas mulheres. Talvez por isso desejasse casar e casou. Era um homem da noite, andava quase sempre às três da madrugada a tentar salvar o mundo, mas o mundo não queria ser salvo e dizia-lhe não raras vezes e passamos a citar: Oh pá “deslarga-me” que não quero ser salvo, porra.

Poucas foram as pessoas que lhe ficaram indiferentes na sua passagem pela televisão, não tanto pelo que dizia, mas porque não conseguiam tirar os olhos dos tentadores pastéis de nata com que ele conseguia atingir estrondosas audiências. Todas as semanas as pessoas pensavam que ele havia de revelar a receita dos pastéis de Belém e ele, esperto, deixava-as acreditar que sim. Era um homem a quem ninguém ficava indiferente. Eu não fiquei e vou certamente recordar a sua passagem pela minha vida durante muito tempo. Pelo menos até daqui a umas horas enquanto o vinho do almoço não faz efeito. E talvez também o recorde no dia em que ao abrir a gaveta me pergunte: que boina é esta?

Andreia Moreira


Morreu Luís Filipe Borges. Mas não queria. Por sua vontade, teria ficado por este mundo até à eternidade. Lutou até ao fim pelo seu lugar ao sol, procurando as palavras que ainda não tinham sido ditas, que ainda não tinham sido descobertas. Correu incessantemente atrás do momento que ainda não tinha vivido e encontrou-o, finalmente. Por isso, ficamos felizes.
Como bom português, não interessa se fez bem alguma coisa, o que interessa é que deixou obras, todas elas parcas em reticências e pontos de exclamação. Proclamou sempre que o estilo “subversivo” é garante de genialidade. Ou disso ou de perturbação. De qualquer forma, andam sempre juntas. Fosse qual fosse a que ele tinha, morreu com ele.
Família e amigos agradecem que o acompanhem à sua última morada porque ele tem medo de morrer sozinho.

Antónia Marinho


Pereceu, por ter ido à máquina num programa de roupa branca, Beret, ‘O fazenda preta’ nos momentos mais escassez cerebral ou o ‘O Nylon Riscas’ nos dias mais cool e criativos. Foi esta idiossincrasia têxtil que o tornou famoso.

Vanessa Luz


Faleceu hoje inesperadamente, devido a engasgamento profundo com o folhado crocante dum pastel de nata tamanho XL, o humorista português Luís Filipe Borges.
Conhecido Açoriano, a ainda jovem promessa portuguesa, estava actualmente ligada aos microfones do Rádio Clube Português onde, em vibrante parceria com o comentador desportivo Rui Santos, assumia uma crónica de humor diária. Parceria essa, que estava aliás a dar os seus frutos além ondas hertzianas, atendendo que a dupla estava em conversações com o actual director da Sic Generalista, no sentido de assegurar uma presença semanal no canal, num formato ainda por definir.
Confrontado com esta enorme perda, o Luís Filipe não era um homem leve, o Governo Regional dos Açores declarou ter hoje solicitado à família autorização para utilizar a imagem do falecido humorista numa campanha anti-tabaco, reaproveitando o facto de este “fumar como um cavalo”, o que se acabou por revelar manifestamente nefasto para o seu bem-estar.


Margarida Santos


Num mundo cinzento,
De personagens pardas e opacas,
raros são os casos sem corantes, rouge ou lacas.

Vivem sem viver,
Fechados no seu reflexo,
Nunca são nada para os outros,
Nada de dar um amplexo.

Mas há estilos diferentes,
Há aqueles que têm muita graça,
Fazem os outros felizes,
Fazem esquecer a desgraça.

Partilham o seu fascínio
Pelas coisas em redor.
Partilham o seu passado,
O que sabem, sem ser de cor.

De boina na cabeça,
Notava-se ao longe a diferença.
Era um dos tais exemplos
De quem dá vida ao que pensa.

Passou por nós num ápice.
Apesar de tanta comédia, do teatro, do romance
Deixou-nos apenas o prefácio,
Deixou a vida num relance.

A sua imagem marcante,
Nunca nos abandonará.
O seu estilo vibrante;
Hoje, o Luís não está cá!

Pedro Vozone


Portugal despede-se hoje, no Panteão Nacional, do mais ilustre desconhecido sob boina, exemplo mor da mediocridade humana. Quem o conheceu diz que mais valia não ter conhecido. Os poucos amigos que Luís Filipe Borges ainda tinha garantem que, nos últimos dias de vida, ele já não conseguia tirar a boina da cabeça. E é assim, com boina, que o podemos ver, inerte, ridículo, de urna aberta.
Médicos legistas garantem que a boina terá adquirido vida própria e sugado toda a energia vital do corpo do hospedeiro. A boina terá sugado também uma ou outra onda cerebral que, muito esporadicamente, ia apanhando por aqueles lados. A usurpação do corpo pela boina é a causa oficial do óbito, para espanto da generalidade dos médicos legistas e da comunidade dos vendedores de boinas portugueses.
Dirija-se ao Panteão Nacional e tire o chapéu ao homem que não o conseguiu tirar e, ingloriamente, morreu por isso.

Susana Tavares

Secção de Necrologia do Semanário “Hoje não há bolinhos”