terça-feira, 13 de janeiro de 2009

# 11

O empregado serviu-lhe a bica. No mesmo momento colocou outra chávena cheia ao lado da sua, com um pacote de açúcar, e sorriu, assim que Anna se encostou ao balcão. Beberam o café com rapidez. Em redor, os outros faziam o mesmo, bebiam cafés, e comiam bolos também, encostados ao balcão. Lembra-se da sua visão dissimulada e dela, que lhe apertava a cintura enquanto lhe amassava o casaco, ligeiramente. Uma intensidade diferente daquela com que Erika o agarrava agora. Mãos de mulher, ternuras diferentes. Gargalhava, numa alucinação contida e silenciosa. Não fosse aquela inusitada filha alcançar o seu prazer irracional, o deleite com as suposições mais reles. A irónica parecença de Erika com os empregados dos botequins lisboetas, sempre devotos ao paladar de Anna.

Abandonavam, provavelmente, os subúrbios de Paris. Mantinha a postura inerte, como convinha. Mas sentiu-se imensamente inseguro, salvo, intermitentemente, pelo que estava escrito, e dentro do envelope A4 – a salvo num cofre em Kuala Lumpur. Abraçou novamente o flashback, cada vez mais preciso, as imagens sobrepunham-se alucinantes, ao ponto de não tolerar mais a dúvida. Talvez ele não tivesse assassinado Anna. O carro parou finalmente, num local com luz, sentia-o nos olhos fechados.

E o condutor sussurrou-lhe ao ouvido.

- Maman nous attend

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