sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

# 13

O condutor sussurrava-lhe ao ouvido, e ele, sem melhor hipótese, enfrentou a estranha luz.
- Doutor Vozone?
- Tranquilo, meu caro. Deve voltar a si, com calma, já sabe como é. Hoje fizemos alguns avanços.
- Então?
- Tranquilidade, Boris, os territórios da fantasia e da realidade andam a par. A Terapia Regressiva ajuda, mas são precisas mais sessões …

O médico falava sem levantar os olhos do papel, onde apontava, provavelmente, notas sobre as memórias de Boris. Este acordava do sono profundo, incapaz de interrogar o outro como gostaria. Era recorrente, pensava, zonzo. Uma inércia que mais tarde o ía torturar, assim que acordasse, ao beber uma bica no café ao lado do consultório. Sessão após sessão, o médico reconhecia-lhe o passado desfigurado, e tomava notas e mais notas. Resmas de papel.

Enterrados num divã surrado, os olhos de Boris caçavam, pitosgas, na parafernal decoração do consultório, em debrum cor-de-rosa. Caíram, sem hipótese, em cima de uma triologia, impecavelmente ordenada na secretária do médico.
No dorso dos livros focou o essencial:

“Cenas Policiais”

4 comentários:

Van disse...

Pedro, permite-me a alusão :)

Beijos

Andreia Azevedo Moreira disse...

GRANDE TWIST. Adorei!!

Andreia Azevedo Moreira disse...

Não faço ideia se twist está bem escrito ou reflecte o que eu queria dizer... (reviravolta). eh eh eh

Van disse...

Pois, pois. Neste exercício vale "quase tudo". Mas desculpem ter rachado um nome. É caótico, eu sei. Mas agora já não mudo (só dava Doris, a esgazeada do Nemo). Vá lá, é compreensível que um alucinado-raptado-e-a-dormir, troque o nome do motorista por quem o estava realmente a acordar?!

(livra! que desculpa!)
:))
Bom Fim de Semana