Tema 1: Mozart
Homem sentado na poltrona de toda a vida. Na mão segura um cachimbo, apagado como a vida que subitamente deixou de lhe correr nas veias. Está de roupão, clássico, e chinelos, de cabedal. O ar é turvo, pelos infindáveis cigarros, cigarrilhas, charutos e cachimbos que sorvia de forma sôfrega enquanto escrevia crónicas toscas para o pasquim da cidade. Não tinha nome, apenas cheiro, intenso e pútrido. Não tinha ninguém. Apenas um velho gato, cheio de feridas, lhe lambia os pés, cheios de feridas. Apenas ele ainda não tinha percebido que agora ficava só e que em breve iria partilhar do destino fatal do seu dono. A música, a última que ouviu, foi banda sonora de vida.
Tema 2: The Strokes – you only live once
Marginal, 1996. O vento sopra quente, aconchegando os corpos que já exibem o tom invejável daquele verão. Há um grupo de amigos, de cabelos longos e oxigenados por carradas de “waxe” e champô de camomila, que avançam descomprometidos, de prancha match 7 debaixo do braço, em direcção à praia, em busca de mais um dia em cheio.
Tema 3: Morrissey – the first of the gang to die
Bairro alto, anos 80. Morrisey dá concerto exclusivo para membros da ordem dos decoradores de interiores, no Frágil. O concerto fora organizado por Nilton, membro honorário e fundador da ordem, cujos associados partilhavam de um fantástico gosto para camisas coloridas, jarras com design, música com ritmo e Homens.
João Camolas
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