o perfil da personagem criada pela Joana Mil-Homens
Diogo tem 34 anos. Vive com os pais aos fins-de-semana e, durante a semana, vai para Coimbra onde finge estudar economia. É um homem grande e desajeitado, quase como um gigante-bebé. Tem uma barba arruivada e sempre bem aparada, que costuma “acarinhar” quando está concentrado. Do pescoço para cima tem um aspecto cuidado, que contrasta com o aspecto “pingão” das roupas que veste. Tem uma vaidade dissimulada. Gosta de sweat-shirts, t-shirts largas e de ténis berrantes. Gosta de verde, não sabe bem porquê, até porque é benfiquista ferrenho. Tem um andar lento e arrastado, um olhar intenso, que afasta os que não o conhecem.
Filho de pais juristas e austeros, tem uma relação quase edipiana com a mãe. Adora-a e sofre porque sabe que a desilude com o curso que não acaba. Revolta-se também pela distância que ela deixou que se construísse entre eles, pelo automatismo quotidiano que caracteriza a sua relação. Com o pai quase não fala. Olha para ele com desprezo pelos valores que ele sempre perseguiu e rejubila por o ver confinado à figura de idoso.
Tem uma excelente relação com o irmão, mas este vive longe, em Braga, onde lecciona filosofia na Universidade. Suspeita da homossexualidade do irmão, mas não tem coragem para aflorar o assunto.
Diogo tem em Antonioni o seu realizador predilecto. Gosta de ler os escritores existencialistas e de policiais. Tem uma cultura assombrosa que se recusa a partilhar a menos que pressionado (ou impressionado). Tem uma certa arrogância em relação ao seu saber. Em Coimbra, leva uma existência quase patética: tem os mesmos amigos dos tempos em que entrou para a faculdade. Que entretanto se tornaram adultos, facto que Diogo tem dificuldade em aceitar. Perde-se nos dias a ler livros e a ver filmes, ocasionalmente arranjando companhia com raparigas que pouco lhe interessam mas que suprem as necessidades do corpo. Ouve American Music Club, Vincent Delerm e Richard Hawley, entre outros. Gosta de dizer que ouve música “sóbria”. Quando bebe, tem uma queda para música Soul, mas quando sóbrio nega essa tendência.
Aos fins-de-semana, que religiosamente passa em Lisboa, tem o grupo de amigos do colégio e do liceu. Um bando boémio, e imaturo, onde Diogo alcançou o estatuto de intelectual. Encontram-se de noite e discutem futebol (conseguem discutir detalhes de jogos decisivos para a época de 88/89), o Y do Público e mandam bitaites sobre política, enquanto enfrascam minis em série. Acabam a noite no Lux. Uma rotina com mais de uma década que ninguém quer deixar, embora as responsabilidades adjacentes à vida adulta façam com que os amigos de Diogo estejam a perder o ritmo frenético que os caracterizou em épocas anteriores.
Mora em Alvalade em frente à Igreja, apesar de ateu convicto. Gosta de Lisboa e de tardes na cinemateca, mas Lisboa significa viver sempre com os pais. Em Coimbra tem uma falsa sensação de independência – continua a receber mesada dos pais. Sabe que em Coimbra se rodeou de pessoas muito distantes do meio social em que cresceu (Lisboa, Colégio), mas sente-se mais confortável entre eles do que com aqueles que lhe lembram as suas falhas.
Sem comentários:
Enviar um comentário