sábado, 15 de novembro de 2008

Viagem




Hoje viajei para dentro de mim e encontrei-te. Estás na mesma. O mesmo sorriso maroto, a mesma tristeza no olhar distraído numa ausência presente. Apeteceu-me beijar-te mas quando abri os olhos já tinhas partido.
Talvez te veja amanhã, na mesma esquina do meu coração. Com sorte, ainda te revejo mais algumas vezes, até desapareceres completamente da minha memória. Como uma folha levada pelo vento. Com leveza e sem rumo. Mas eu quero-te recordar, quero poder visitar-te sempre que me apetecer. E quero que estejas à minha espera. Com o mesmo sorriso maroto, a mesma tristeza no olhar distraído numa ausência presente. Não quero que partas. Fica. Fica para sempre. Por mais viagens que faça para dentro de mim, é a ti que te procuro ainda e sempre que te vejo é como se fosse pela primeira vez. E ao recordar revivo a nossa primeira viagem. Juntos éramos um só. Demasiado apaixonados para percebermos que era o início do fim. Às vezes preferia não te ter conhecido. Não ter conhecido o amor. Porque dói tanto ter-te só no pensamento. Estás impregnado na minha alma, como uma mancha que não sai. Resistes a tudo. É por isso que já desisti de te apagar. É por isso que te carrego sempre comigo na bagagem da vida. E é por isso que vivo da saudade de ti. Não quero que partas. Fica. Fica para sempre. Ao menos deixa-me ver-te sempre que me apetecer. Espera por mim na mesma esquina do meu coração. Por mais viagens que faça, é a ti que procuro ainda. Sempre tu. Só tu. Vivo da saudade de ti. Vivo da lembrança que tenho de ti. Não partas da minha memória. Se partires, reinvento-te outra vez, e outra vez. Já não vivo sem ti. Sem a lembrança de ti. Sem te recordar. Só a saudade de ti me alimenta. Como o pão nas mãos de um pedinte. Tenho tanta fome de ti. Tenho sede de ti. Dá-me o teu mar a beber. Não partas. Fica. Fica para sempre. O amor não envelhece. Estás na mesma, já te tinha dito? Amanhã quero ver-te na mesma esquina do meu coração à minha espera. Com uma rosa vermelha na mão, como da primeira vez. Vamos conversar, tenho tanto para dizer. Quero dizer-te tudo o que não te disse. Quero ir a todos os teus lugares que ficaram por visitar. Quero que descubras em mim os lugares que não chegaste a demorar-te. Fica. Fica para sempre. Não te quero apagar da memória. Resiste. Resiste a tudo. Como uma nódoa que teima em permanecer. Não te quero lavar da alma. Vivo da saudade de ti. Vivo de recordações. O que me mantém vivo é ter-te no pensamento. Sempre tu. Só tu.
És uma obsessão. É por isso que desisti de te apagar da memória. É por isso que te carrego sempre na bagagem da vida. Por mais que viaje para dentro de mim, é só a ti que te procuro. E é só a ti que quero encontrar. Intacto. Mesmo que não te consiga alcançar, ver-te apenas basta. Basta para me sossegar a alma. A alma que tem fome de ti, que tem sede de ti. Dá-me o teu mar a beber. Quero-te tanto. Não me canso de ti. Não me canso de te amar. O amor não envelhece. Fica. Fica para sempre dentro de mim. A cada viagem quero te ter à minha espera na mesma esquina do meu coração. Vivo apenas porque te sei vivo dentro de mim, como da primeira vez. Resiste. Resiste a tudo. Como a mãe agarrada a um filho que já partiu. Não partas. Não me deixes. Não desistas de mim. Habita o meu corpo, o meu pensamento e invade a minha alma. Deixo-te a porta aberta. Entra. Entra e fica. Fica. Fica para sempre dentro de mim. Amo-te. Amo-te como da primeira vez. Beija-me. Beija-me como se fosse a primeira e a última vez ao mesmo tempo. Como uma rajada de vento. Como um raio fulminante. Como uma tempestade de luz. De afecto. De emoção. De sentimento. Como da primeira vez. Entra e fecha a porta. Fica. Fica para sempre a habitar em mim. Porque te amo. É a ti que procuro ainda, de cada vez que viajo para dentro de mim. És a minha verdade. És a minha única verdade. Porque te amo. Só a ti. Mais do que a mim própria. Fica. Fica para sempre dentro de mim. Não partas.

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