domingo, 30 de novembro de 2008

Manter a classe num carro anão / e / Wacky


And the winners are: Luísa Oliveira e Andreia Moreira (já publicadados) e ainda Joana Mil-Homens e Vanessa Luz - estas num registo mais próximo da crónica.



Se vem fazer um passeio de Go Car, esqueça a capa da próxima Hola!. Reze para que o Famashow não ande nas redondezas. Ligue à cabeleireira a marcar uma máscara intensa. Assim que chega enfiam-lhe um capacete. E bem que pode dizer que a mise é de hoje. A figura de motoqueiro da aldeia é garantida.
Escolha um condutor de confiança. Que fique bem nas fotos, mas não demasiado bem (não vai querer ser o mono ao lado do figurão). A máquina fotográfica é importante. Esqueça a máquina de filmar. A meio do percurso vai perder a postura blasé e vai gritar tanto como os outros. E ninguém quer ter provas do dia em que passeou por Lisboa a guinchar como um macaco com o cio só porque foi ultrapassado por um carro “normal”.
Considere os outros condutores, os que têm nas mãos um carro que não um Go Car, como adolescentes com as hormonas em ebulição e você a gaja boa dos anúncios do Lux. Lembre-se das regras do Liceu: só apalpam o rabo ao último da fila. Não lhes dê confiança, esteja atento. Se a sua atenção não for suficiente e alguém lhe bater por trás, relaxe. Saia do carro com um sorriso calmo. Histeria não resolve nada e cria rugas. Deixe o “motorista” resolver as coisas e faça de conta que é um mero turista. Tire fotos, troque bitaites com os transeuntes. Se a polícia aparecer e perguntar pelos coletes, chame à superfície da pele todo e qualquer grama de progesterona, sorria, e explique que não sabe abrir o pequeno porta-bagagens. Já que está de marfim arreganhado, e caso valha a pena, sorria também para o condutor, vai tranquilizá-lo, uma vez que a esta altura ainda não percebeu bem se atropelou ou não uma criança de triciclo e já promete a Deus nunca mais tocar em substâncias ilícitas.
Depois de se juntar ao grupo, não se contenha: você foi o único a ter um acidente. O Universo ofereceu-lhe as luzes da ribalta, brilhe. Depois da adrenalina do acidente, vai sentir uma sensação dúbia: por lado apetecia-lhe ter sete mil olhos para controlar todo e qualquer veículo que circule em Lisboa a esta hora, por outro as regras da probabilidade explicam que já pouco lhe pode acontecer. Relaxe e desfrute, como uma lady.
Em caso de dúvida acene. Se vir que gritam, tiram fotos, ultrapassam (grande coisa, ultrapassar um veículo que, em esforço, chega aos 60 km/hora), acene. Não diga adeus, por favor, que isso é coisa de ex-concorrente do Big Brother em noite de autógrafos numa discoteca do interior centro. Acene com classe. Inspire-se na Rainha – Mãe, veja fotomontagens da Lady Di. Devagarinho, para as banhas do antebraço não cegarem o condutor.
Vai receber vénias e aplausos. Vai ser o alvo dos flashes. Você não se vai esquecer deste passeio. Lisboa também não se vai esquecer de si.

Joana Mil-homens




WACKY



Aquela manhã de sábado começou cedo, à porta do Hotel Amazónia, ponto de encontro com a Andreia e de partida para o nosso passeio matinal. De mãos escondidas nos bolsos descemos a Avenida da Liberdade a amiudar conversa até ao quartel-general da GoCar, na Baixa.
Já o sol estava solarengo, embora não parecesse, quando assinámos o contrato com a GoCar. Um momento próximo do matrimonial, firmado romanticamente e completado com a aposição do respectivo capacete. Seguiu-se o ambiente galhofeiro com a partida dos primeiros carros, algo parecido com as míticas ‘corridas mais loucas do mundo’.
Partimos comigo ao volante e Andreia à pendura, uma experiência que à primeira inalação de escape se tornou nostálgica, pois lembrei-me da minha velha acelera. Perdida nessa memória adolescente adverti Andreia para que tivesse cuidado com as gargalhadas em andamento, não fosse engolir alguns mosquitos. Mas ela não fez caso.
A primeira paragem foi no Mercado da Ribeira, segundo sugestão do GoCar das companheiras que seguiam à frente, Luísa e Antónia, já que o nosso estava teimoso e só falou mais tarde. Após duas voltas ao quarteirão e ao IADE, lá estacionámos. Foi aí que descobri a primeira simpatia do carro, diria, self-transportation. Pegando-lhe, o GoCar permite ser ajeitado milimetricamente ao estacionamento, uma facilidade futurista.
Mas estávamos ali com o propósito da primeira troca de impressões enquanto esperávamos pelo resto da malta. Quem chegou primeiro deliciou-se com um café no Mercado, coisa que eu cobicei. Quando ia tratar do assunto reparo que, mesmo ao nosso lado e contemplando o rio, seguia placidamente o resto da malta. Aquela que estávamos à espera. Voltei a recordar-me das ‘waky races’, daquele cãozinho a rir.
Adiante.
Lá nos fizemos de novo à estrada. Desse caminho destaco três momentos altos: o primeiro foi termos ficado parados numa fila; o segundo tem a ver com umas bocas do GPS por eu ter pisado as tampas de esgoto e o terceiro momento e, talvez o mais extenso, um par de olhos infantis colados ao vidro do carro que nos seguiu durante grande parte da 24 de Julho.
A paragem seguinte foi em frente aos ‘Pasteis de Belém’. O Pedro Alves e o Paulo estacionaram mesmo ao nosso lado, aproveitaram um espacinho junto a uma espécie de mini-betoneira. Depois atestámos de ‘pastéis de nata’ e fizemos a troca de casais. A Andreia assumiu estoicamente o comando pois foi caminho aberto para a corrida dos carros.
E fez-se o regresso. Pelo caminho inverso, e com o sol a dar. Há nossa frente Camolas e Joana Mil-homens, ela acenava às pessoas com a mão em conchinha. Eu tentava uma pose turista e punha o braço de fora, e a Andreia ao volante, contente que nem uma perdida mas a achar-me estranha.



NOTA: Dei voltas e voltas com este texto dos GoCar, intimidada com o desafio criativo. Tentei uns rabiscos e arrisquei umas coisas (bestialmente giras). Também uns delírios poéticos. Até trouxe o meu “primo” Carlos para a narrativa.
Casei-o com Rosa Maria, fi-lo vir à cidade essa manhã de Sábado, mandei Rosa Maria ao Grandela e fiz a vontade ao meu primo, uma hora de soltura, livre do carrego dos sacos a reboque de Rosa Maria. Achava eu, por gostar tanto de Carlos, que o pobre merecia um sábado melhor. Enfiei-lhe o capacete, fi-lo assinar o contrato e empurrei-o para dentro de um GoCar. Ora Carlos não conhece Lisboa como devia. Logo Carlos, o ‘Special One’ dos primos, por isso merecedor da viagem com o grupo criativo, já que sobrava um lugar, o meu, infelizmente ausente e com uma boa desculpa.
Bom, por mais tentador e benevolente que fosse a minha ideia, não era justo para Carlos que não gosta de motas nem de mulheres. Mesmo assim ainda havia espaço na história para um profético desgosto de amor, justamente afogado em ginginhas se Carlos seguisse as reconfortantes orientações do GoCar e, nesse caso, a ‘Rota da Madragoa’.

Vanessa Luz
PS (lfb): era de esperar uma quarta senhora na imagem a enfeitar este post. Não sei que se passou. Avisem-me por favor quando abrir o Workshop de Blogolândia para Néscios.

2 comentários:

Lulu disse...

bem... uma pessoa vira costas e usurpam-nos a identidade da blogosfera para encher este blogue de textos fantásticos!

MóniKa disse...

Parabéns às 4 vencedoras!
Beijinhos
Mónica