Estava no topo de uma montanha verde, entre o céu e o mar, pronta a atirar-me sem medo para o azul. Sentia-me livre para iniciar o voo naquela imensa tela azul. Simplesmente voar sem limites espaciais nem temporais. Empreender uma viagem que começava ali mas não sei onde nem quando terminava. Subitamente acordei. O meu sonho, o mais belo, o mais perfeito foi abruptamente interrompido por vozes que insistentemente repetiam: não sabes voar. Ao ritmo destas vozes a ecoar na minha cabeça, o meu sonho fugia-me como a água escapa por entre os dedos de uma mão. A minha primeira reacção foi ir atrás dele. Correr atrás do sonho, na esperança de poder retomar o sonho exactamente no ponto onde havia parado, no sopé da montanha verde pronta a mergulhar no azul, entre o mar e o céu, mas não consegui. Sentia-me vulnerável, impotente por não ser capaz de alcançar o sonho. Na noite a seguir voltei a tentar mas também não consegui repetir o sonho. Nas noites seguintes apesar da minha insistência, acontecia-me sempre o mesmo: o sonho escapava-me. Acabou por se tornar uma obsessão, agarrar aquele sonho para poder sonhá-lo até ao fim. No entanto, era inútil. Não sei explicar porquê mas aquele sonho, o mais belo, o mais perfeito, já não estava ao meu alcance. Inacessível. Inatingível. Foi então que desisti de tentar. Abdiquei do sonho. Decidi parar de sonhar. Uma vez que não podia sonhar o sonho mais belo, mais perfeito, mais poético, então não valia a pena sonhar. Prometi a mim mesma que a partir daquele dia não voltaria a sonhar. Estava decidida a cumprir a minha promessa. A combater com todas as minhas forças toda e qualquer ameaça de sonho. Rodeei-me de um exército de vozes que me protegerem dos sonhos. Cumpri tão escrupulosamente a minha promessa que estou convencida que mesmo que tentasse, já não saberia sonhar. Essa perspectiva de imunidade total ao sonho assustou-me. Fez-me perceber que sem sonhos, a minha vida já não faz sentido. Sonhar faz-me falta. Sinto-me incompleta sem a minha capacidade para acreditar. Quero sonhar outra vez. Quero acreditar que é possível voar. Foi então que o céu se encheu de lua. As vozes subitamente calaram-se e deram espaço ao silêncio. E naturalmente recomecei a sonhar. Confiante, atirei-me do topo da montanha verde para a enorme tela azul, entre o céu e o mar, e comecei a voar. O meu sonho, o mais belo, o mais perfeito, o mais poético estava agora ao meu alcance.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
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1 comentário:
Deixar de sonhar é que não! Ainda bem que foi só um "pesadelo". ;)
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