Título: Traga-me a carta das águas por favor. Estou a morrer à sede.
A história começa num restaurante moderno, com uma decoração chic, com pratos, copos e talheres de formatos invulgares. Um ambiente requintado e frequentado por pessoas da mais alta sociedade. Em todas as mesas estão homens de negócios, mulheres independentes e resolvidas que se afirmam apenas pela forma de estar; os empregados são bem-educados, cuidadosos. É hora de almoço na Baixa da cidade e é um restaurante muito procurado para encontros de negócios. Uma música chill out de fundo, toques leves dos talheres nos pratos, risos silenciosos.
A história começa num restaurante moderno, com uma decoração chic, com pratos, copos e talheres de formatos invulgares. Um ambiente requintado e frequentado por pessoas da mais alta sociedade. Em todas as mesas estão homens de negócios, mulheres independentes e resolvidas que se afirmam apenas pela forma de estar; os empregados são bem-educados, cuidadosos. É hora de almoço na Baixa da cidade e é um restaurante muito procurado para encontros de negócios. Uma música chill out de fundo, toques leves dos talheres nos pratos, risos silenciosos.
Duas amigas, despreocupadas, a fazer tempo para ir às compras, sentam-se e investigam a ementa à procura do prato mais fora do normal. Entretanto uma delas pede a carta das águas. Carta das águas? Pergunta a outra.
As amigas discutem que tipo de águas preferem, o diálogo chega a ser ridículo. A dúvida é entre uma Eisenham garrafa em cristal de 9,90€; uma Cloud Juice, que é água da chuva cujas características variam consoante a temperatura a que é servida; ou uma Antípodes da Nova Zelândia.
A partir daqui o ritmo da acção acelera.
Ao mesmo tempo, do outro lado da cidade, uma mulher jovem, que tem apenas a hora de almoço para fazer as compras do dia no Pingo Doce mais próximo, debate-se entre levar uma garrafa de água de marca branca que custa 0,07€ ou uma do Luso quase 0,20€ mais cara. Há movimento à sua volta, muita gente, muita confusão, o barulho das caixas registadoras no fundo.
De repente o cenário muda e encontramo-nos em África, num deserto árido, sem árvores, com vegetação seca e muitas moscas pelo ar. Vêem-se tendas brancas, compridas, com uma cruz vermelha desenhada nos lados. Vemos a cena através dos olhos de uma criança e percebemos que as suas mãos em concha seguram num fio de água que leva à boca, água apanhada do chão. E na tenda morre outra criança por desidratação.
A cena fecha com as gotas do soro a cair lentamente no tubinho de plástico. E o som das gotas prevalece sobre todos os outros ruídos, lentas e compassadas, quase estridentes.
Eva Mota
1 comentário:
"A cena fecha com as gotas do soro a cair lentamente no tubinho de plástico. E o som das gotas prevalece sobre todos os outros ruídos, lentas e compassadas, quase estridentes".
Bom final (forte).
Mónica
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