Zacarias é mais um português como tantos outros.
Vem de uma família de bons costumes e sabe rodear-se de bons amigos. 42 anos, já foi padre mas agora é casado com o grande amor da sua vida – Márcio – não gosta de racistas nem de cidadãos africanos, é engenheiro informático e não gosta das “modernices dos computadores”. Um dia, resolveu candidatar-se a Primeiro-Ministro e lá conseguiu chegar ao topo do nosso Governo (os seus trunfos foram as suas convicções fortes e os seus ideais consistentes). Mas como a vida não está fácil para ninguém (nem para os mentirosos), Zacarias teve de arranjar um segundo emprego para conseguir pagar as contas lá de casa. É talhante na casa de carnes da esquina da rua onde mora.
O seu dia é rotineiro. De manhã, corta o cachaço da vaca para vender à Dona Lurdes, sua vizinha. À tarde, vai ao Parlamento explicar as contas públicas. Às Sextas à noite, ainda faz um biscate como porteiro no bar onde Márcio faz strip-tease. Não se importa com esta profissão do seu mais que tudo, pois sabe que lá em casa, em São Bento, Márcio é todo dele.
Zacarias é um homem com um só problema. A vida de Primeiro-Ministro ocupa-lhe muito tempo e as viagens ao estrangeiro já o fizeram faltar ao talho umas 5 vezes. O patrão, um cidadão angolano, ameaça despedi-lo se ele não se demitir do Governo. A viver com este dilema, Zacarias só lamenta não encontrar trabalho na sua área para poder ser alguém na vida e não precisar de dois empregos. Para já, provavelmente, Zacarias vai demitir-se do cargo de Primeiro-Ministro pois o talho fica mesmo ao pé de casa e não precisa de gastar dinheiro em transportes para inaugurar isto e aquilo por este país fora.
1 comentário:
Desconcertante!
Mónica
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