quinta-feira, 9 de outubro de 2008

VOTO EM BELUGA

(não sabemos muito bem como catalogar isto mas, seja isto o que for, isto é bom)

Se o leitor é também - e não posso, em boa e humilde consciência, deixar de frisar o “também” - um bom cronista, então é porque se mantém actualizado, lê enquanto come ou em vez de, e inspira-se constantemente em tudo o que vê e ouve, a menos que seja Vasco Pulido Valente, caso em que é Sua Excelência que mostra aos outros cronistas o que escrever…se faz favor.
Claro que estar constantemente a par da actualidade tem, a certos níveis, desvantagens óbvias. Para além de não sentir o toque de outro ser humano vai para 4 anos – no outro dia apertei a mão a Freitas Lobo que, como versão orgânica d’ A Bola não conta – sofro desde a adolescência de raquitismo por falta de luz solar. Outra desvantagem, mais notória, é a de chegar algo atrasado aos assuntos a comentar. Peço, por isso, desculpa a Pacheco Pereira por só agora ter oportunidade de comentar o seu artigo de 1989. Faço votos para que possamos ainda encetar acesa discussão ou, em alternativa proceder ao pagamento do que ele ainda me deve pela compra do meu “Boca de Sapo”.
Do que falo, então? Falo, caro leitor, do avanço que o Brasil nos leva, neste ano de 1988, em termos de vida e da própria classe política. Terminada a contagem dos votos para a Prefeitura do Rio de Janeiro, descubro, para meu espanto e vergonha, que em terceiro lugar está um tal de Tião, um Pan Troglodytes – no sentido científico do termo – que arrecadou cerca de 400.000 votos, perfazendo 9,5%. Pesquisando na internet, invenção recente, descubro que já em 1959 um rinoceronte de seu nome Cacareco, mas candidatando-se, também ele, com o nome Barack Obama, tinha ganho, com 100.000 votos, a eleição para Vereador de S.Paulo.
Entre os meus amigos, mais importados com profecias de uma hipotética crise económica à escala global, não obtive qualquer compreensão para o que estas vitórias zoológicas representam, não só para Darwin mas também para Portugal. Se algum apoio encontrei, foi no jovem João Pereira Coutinho, já muito apegado às terras de Vera Cruz, mas ainda estranhando porque raio Diogo Mainardi ainda o trata por você quando ele já trata Mainardi por tu. À conversa com o petiz enquanto lhe pagava um sorvete de morango no Majestic, que me saiu a 1000 escudos, disse-me o infante que havia que importar esse modelo brutalmente democrático do Brasil, pois só assim a raça humana sublinharia a sua superioridade.
Opinião interessante, de facto, a que não me pude opor por risco de uma birra de Coutinho. Mas será mesmo necessário importar, qual D. Manuel I, rinocerontes brasileiros (como se sabe, em 1515, Índia e América estavam unidas, como demonstrado por Colombo) para de alguma forma temperar a vida política portuguesa? Não me parece, de facto, não só pela eventual legitimação das tácticas eleitorais animalescas de alguns autarcas, mas também pela protecção dos próprios animais. De facto, tivesse Alberto João Jardim conhecimento de que um adversário à altura se dirigia para a Madeira, e o pobre rinoceronte teria certamente o mesmo destino do que D. Manuel enviou ao Papa Leão X, acabando no fundo do mar com os outros adversários do presidente madeirense. Para não falar do bizarro que seria termos um tapir sem cargo político n’ O Dia Seguinte, aguardando pelo próximo cargo político, porventura Secretário de Estado da Cultura ou até Primeiro-ministro em caso de fuga para a Europa da onça que à data ocupar o cargo.

João Gante

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